terça-feira, 13 de dezembro de 2011

GROG

«Scooping the Cranial Insides»
(Murder Records, 2011) [7/10]



Verdadeiro ex-libris nacional na vertente death/grind, acabam de regressar com um dos maiores massacres sónicos que este cantinho malcheiroso à beira-mar plantado alguma vez testemunhou. Neste terceiro registo de originais a banda de Oeiras dispara com uma raiva absolutamente criminosa um total de catorze temas esmagadores, regendo-se muito pelos parâmetros standard do género, mas incorporando, desta vez, uma proeminente faceta mais técnica e aliciante. É sem dúvida o trabalho mais intenso e completo dos Grog até aqui, mas recomenda-se só a fanáticos dos extremismos death.

in Clip (Diário de Aveiro), 8 Dezembro 2011

IPERYT

«No State of Grace»
(Witching Hour Productions, 2011) [7/10]


Se conseguirem imaginar uma versão modernizada de thrash à lá Sepultura depois de acelerado numa centrifugadora industrial bem acima das 250 rotações por minuto, então é possível que fiquem com uma ideia aproximada de como soa este segundo álbum dos Iperyt. Usando ritmos sintéticos e tiradas ultra-rápidas cuspidas por uma percussão maquinal, alguns toques de melodia e samples bem colocados, e acima de tudo uma garra visceral, a formação polaca apresenta aqui a sua própria interpretação – psicótica e perversa – dum terrorcore industrial que até tem os seus momentos.

in Clip (Diário de Aveiro), 8 Dezembro 2011

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

NEGURĂ BUNGET

«Focul Viu»
(DVD, Lupus Lounge / Prophecy Productions, 2011) [9.5/10]

Depois de «Măestrit», o último registo áudio dos Negură Bunget a ser efectuado com o triunvirato original constituído por Hypogrammos (guitarra/voz), Sol Faur (guitarra) e Negru (bateria), este DVD é provavelmente o documento definitivo que faltava para assinalar da melhor maneira o fim de um capítulo incontornável na carreira de uma das bandas mais criativas no espectro black metal do sec. XXI. Constituído na sua maior parte por um concerto gravado em Bucareste, em Janeiro de 2008, «Focul Viu» (literalmente “Fogo Vivo”) capta fielmente todo o encanto e todo o misticismo que transborda dos álbuns da formação romena, testemunhando igualmente as extraordinárias qualidades da banda no ambiente ao vivo. Mas não é fácil transpor para a escrita toda a experiência cognitiva proporcionada pelo colectivo ao longo da hora e meia que dura o concerto. Há algo de espiritual, de ritualista na presença da banda em palco. Desde as tiradas intensas e emocionais de black metal às sequências atmosféricas e progressivas, envolvendo toda uma variedade de instrumentações tradicionais como as flautas de pã e de bisel, o xilofone e as guitarras acústicas, a par das vocalizações profundamente evocativas, tudo na performance dos Negură Bunget irradia perfeição e profissionalismo. Centrado em grande medida no material de «Om», o longa duração de 2006 (e talvez a maior obra até hoje da banda), mas também com passagem por magníficas interpretações de momentos de «‘n Crugu Bradului» (2002) e «Măiastru Sfetnic» (2000), «Focul Viu» fica para a posteridade como uma assombrosa celebração do legado deste grupo da histórica Transilvânia. Com filmagem e produção irrepreensíveis, a par do melhor som que é possível desejar, este é, sem dúvida, um registo a não perder, quer para quem não teve a oportunidade de experimentar na pele a sensação de um concerto com a formação clássica aqui presente, quer para quem já é fã da banda e, nesse caso, por maioria de razão, não pode (nem deve) passar sem este documento que regista um momento (provavelmente) irrepetível de uma formação histórica, que vale a pena guardar.

in Clip (Diário de Aveiro), 3 Novembro 2011

NOMAD

«Transmigration of Consciousness»
(Witching Hour Productions, 2011) [8.5/10]

Reduzindo uns furos na brutalidade inconsequente e na frequência de lugares comuns que atormentaram o álbum anterior, «The Independence of Observation Choice» (2007), e apostando agora num esforço inaudito de criatividade, os Nomad acabam de apresentar aquele que é talvez o disco mais notável de uma carreira que já se prolonga desde 1994. Menos preocupada com a velocidade, a formação polaca traz-nos desta vez um death metal com um trabalho rítmico vincadamente solto e inventivo, e muito mais focado na criação de uma atmosfera negra e densa. Como aspecto digno de nota este quinto registo de originais contém uma série de curtos interlúdios/intros de sonoridade sinfónica ou industrial, conduzidos por teclados, que fazem a ponte entre os temas principais, conferindo eficazmente fluência ao álbum e um sentido muito mais grandioso. Podíamos bem destacar o cadenciado “Identity with personification” ou o rodopiante e marcial “Pearl evil” mas a verdade é que a música se mantém fiel a elevados padrões de qualidade em praticamente toda a duração do disco. A única queixa que ocorre é com o vocalista Bleyzabel Balberith: a sua voz mais grave é demasiado flat e desprovida de vida; só se salva mesmo quando aplica o seu registo black metal como acontece no excelente “Raised irony”. Com um artwork verdadeiramente assombroso, «Transmigration of Consciousness» é um trabalho ambicioso e muito bem conseguido, que está cheio de momentos galvanizantes. Um verdadeiro épico para ouvir de fio a pavio de uma só vez, que, estou certo, valerá cada minuto do vosso tempo.

in Clip (Diário de Aveiro), 29 Setembro 2011

NADER SADEK

«In the Flesh»
(Season of Mist, 2011) [7.5/10]

Este é um projecto curioso. O seu mentor, que empresta o nome à banda, não toca nenhum instrumento e, segundo parece, só compôs uma pequena parte da música. Tornou-se conhecido no meio do metal como o arquitecto das impressionantes instalações e efeitos visuais que ornamentaram os palcos de bandas como Mayhem e Sunn O))), sendo este álbum o registo da sua primeira incursão nos domínios da música propriamente dita. E para concretizar da melhor maneira esta sua ambição, o artista em causa pegou nos conceitos e nos esboços musicais que idealizou e depositou-os nas mãos de gente competente: o ex-Morbid Angel Steve Tucker (voz), Rune Eriksen dos Ava Inferi (ex-Mayhem, guitarra) e Flo Mounier dos Cryptopsy (bateria). O que resultou é death metal de inegável qualidade. Todavia, com excepção do intro e de dois curtos interludios (inteiramente redundantes, diga-se), bem como o belo instrumental “Nigredo in necromance”, este é um álbum caracterizado essencialmente por uma sonoridade e estilo perigosamente próximos de... Morbid Angel com rasgos de Death e... Mayhem. É certo que é um mimo sentir Eriksen a exercitar os dedos nas seis cordas com uma rapidez e técnica inéditas desde os tempos de «Ordo ad chao», assim como é delicioso apreciar a criatividade e a precisão com que Mounier castiga o seu kit. Contudo, tratando-se de um trabalho que resultou de uma associação inusitada entre um artista de outras artes e um conjunto de músicos de craveira (já para não falar do rol de convidados ilustres que participaram: Attila Csihar, Tony Norman, etc), seria de esperar daqui nada menos do que alguma inovação. Em lugar disso fica a sensação de muita parra e pouca uva.

in Clip (Diário de Aveiro), 8 Setembro 2011

domingo, 21 de agosto de 2011

Calvão em chamas!

VAGOS OPEN AIR 2011
Lagoa de Calvão, 5 e 6 de Agosto

O primeiro fim-de-semana de Agosto viu mais uma vez as atenções da comunidade metaleira nacional totalmente concentradas na pequena localidade de Vagos, onde decorreu a 3ª edição do festival que já muitos referem carinhosamente como o Wacken português. O cartaz prometia e, definitivamente, não defraudou as muitas centenas que, durante dois dias, acorreram ao campo de futebol do G. D. de Calvão para ver e ouvir alguns dos nomes mais sonantes da música extrema actual.
Quem começou por dar nas vistas não foram, no entanto, os famosos, mas sim um colectivo desconhecido de todos – os Essence. Sucedendo-se às actuações dos nacionais Revolution Within e dos Crushing Sun, este grupo de jovens dinamarqueses fez abanar muitas cabeleiras por entre as hostes do VOA com o seu thrash fresco, embora revivalista, numa actuação que fez sobressair um baixista virtuoso e que terminou da melhor maneira possível com uma muito bem recebida cover do intemporal “Raining Blood” dos Slayer.
Os Anathema protagonizaram um dos melhores concertos deste primeiro dia. Com Daniel Cardoso nas teclas, a banda de Liverpool tomou conta da multidão com o seu rock atmosférico carregado de emoção, desfiando um reportório baseado inicialmente em «We're Here Because We're Here» e encerrando com o fabuloso “Fragile dreams” do álbum «Alternative 4». Apesar das lamentáveis três ou quatro vezes em que foram interrompidos por corte de energia, o que ficou nos presentes foi a impressão de uma prestação verdadeiramente memorável.
Já dos Tiamat não se pode dizer o mesmo. Depois de uma entrada em palco que atrasou mais de meia hora, Johan Edlund e companhia deram inicio a uma actuação monótona e sem brilho que só viria a arrancar a audiência da letargia quando passou por clássicos como “Whatever that hurts” (de «Wildhoney») ou “The sleeping beauty” (de «Clouds»).
Mas essa noite de sexta-feira estava destinada a terminar em apoteose, ou não fossem os Opeth a última banda do alinhamento. E assim foi: ao som de “Grand conjuration” a formação sueca arrancou um set brilhante que revisitou álbuns como «Still life», «Deliverance», «Damnation» e «Watershed», colocando em evidência toda a dinâmica, variedade e riqueza artística que caracteriza a música do grupo, enquanto o líder e front-man Mikael Akerfeldt encantou com o habitual à vontade e boa disposição com que contacta a audiência.
As hostilidades do segundo dia iniciaram-se com os portugueses We are the Damned e os Malevolence, e prosseguiram ainda ao ritmo do death metal melódico com os finlandeses Kalmah.
O projecto a solo do ex-Emperor Ihsahn era um dos focos de maior expectativa deste dia, e o multi-instrumentista norueguês não desapontou. Apresentando-se em palco com os músicos dos compatriotas Leprous, Ihsahn presenteou o público com uma selecção de temas dos seus três registos a solo, incidindo especialmente no último, «After». Para gáudio da audiência tocou ainda dois temas dos Emperor: “Tongue of fire” e o incontornável “Thus spake the nightspirit”.
Os preliminares sonoros e visuais durante o soundcheck que se sucedeu, fizeram logo suspeitar que o que viria a seguir não era mais um simples concerto de metal. E não foi. Na verdade tratou-se da actuação mais marcante de todo o VOA2011: a dos Devin Townsend Project.
Abrindo com “Addicted!”, o hiper-activo Devin Townsend e os seus comparsas brindaram os presentes com autênticos espasmos musicais de génio, fazendo-se acompanhar por animações sincronizadas centradas na personagem cómica do extraterrestre Ziltoid, que passavam nos dois ecrãs gigantes. A actuação percorreu temas dos DTP e dos álbuns de Devin em nome próprio, tendo contado com a participação de Ihsahn, que a dada altura subiu ao palco para cantar em “Juular”, conforme a versão de estúdio. Extremamente expressivo e engraçado, o front-man canadiano conquistou facilmente o recinto com a sua personalidade e com o espectáculo verdadeiramente assombroso que proporcionou.
A derradeira actuação do VOA estava reservada para os veteranos Morbid Angel, baluartes do death metal norte-americano e por isso um dos nomes mais aguardados do cartaz.
Encabeçados novamente pelo lendário David Vincent que estava muito falador, embora pouco inspirado, a banda da Florida esmagou sonicamente a Lagoa de Calvão, primeiro com “Immortal rites”(do primeiro álbum) e depois com clássicos como “Sworn to the black” e “God of emptiness”. Do surpreendente e obscuro «Illud Divinum Insanus» cuspiram ferozmente “Nevermore”, “I am morbid” e “Existo vulgoré” com uma performance de primeiríssima categoria que arrasou de vez com o auditório, comprovando uma vez mais porque são ainda uma das potencias mais relevantes da música extrema actual. Com os últimos ecos de “World of shit (The promised land)” no ar, os Morbid Angel deram por encerrada mais uma excelente edição do Vagos Open Air.

in Clip (Diário de Aveiro), 18 Agosto 2011



domingo, 31 de julho de 2011

DRAGGED INTO SUNLIGHT

«Hatred for Mankind»
(Prosthetic Records, 2011) [8.5/10]

Lançado para o mundo originalmente em 2009 pela mesma editora que apostou anos antes nos necro extremistas Anaal Nathrakh, partilham com estes a convicção niilista com que debitam uma sonoridade corrosiva e devastadoramente apocalíptica. E ao fazê-lo movem-se sem esforço entre o sludge do doom e descargas black, cuspindo pelo meio torrentes de riffs cortantes como serras rombudas, acompanhadas de rugidos guturais e gritos dilacerantes que induzem o equivalente a um potente shot de adrenalina que nos mantém em permanente estado de alerta. Fascinante e perturbador.

in Clip (Diário de Aveiro), 28 Julho 2011

PEGAZUS

«In Metal We Trust»
(Black Leather Records, 2011) [2/10]

Embora a crise de ideias que grassa em todos os sectores do metal nos torne mais condescendentes com os artistas, há coisas que não resistem à mais cristã das tolerâncias. É o caso deste álbum: uma verdadeira e descarada antologia de todos os clichés mais pirosos, repetidos ad nauseam ao longo da década de 80. Nada, mas mesmo nada neste disco – nas estruturas e nos riffs bafientos de base, nos títulos das canções e do álbum, nas frases feitas das letras, nos coros risíveis e na capa de mau gosto – é uma criação genuína dos Pegazus. Não confundir por favor com revivalismo – isto é plágio; é fraude!

in Clip (Diário de Aveiro), 28 Julho 2011

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Lagoa de Calvão, 5 & 6 de Agosto

Já é uma referência incontornável no roteiro de festivais nacionais de metal e está a poucas semanas de regressar com um cartaz preenchido, uma vez mais, por alguns dos nomes mais sonantes – e desejados – da música extrema actual.
Das doze bandas que irão marcar presença nesta 3ª edição do Vagos Open Air, destacam-se desde logo os suecos Opeth, a banda do génio Mikael Akerfeldt que já completou duas décadas de uma sólida carreira e está a poucos meses de lançar «Heritage», o décimo registo de originais. Quem já os viu ao vivo, sabe que são mesmo especiais.
Igualmente a encabeçar o cartaz estão os Morbid Angel, um dos símbolos monstruosos do death metal norte-americano, que trazem na bagagem ainda a borbulhar o novíssimo «Illud Divinum Insanus». O facto da banda contar novamente, volvidos dezasseis anos, com o lendário vocalista David Vincent, será sem dúvida um motivo adicional para tornar este concerto imperdível.
Os Anathema, que já passaram pelo nosso país diversas vezes, trazem ao VOA o rock indie, melódico e atmosférico, dos seus últimos lançamentos, incluindo o ainda bem presente «We're Here Because We're Here». Do híbrido death/doom que ajudaram a criar no início dos 90s ficou a faceta introspectiva que é sempre patente nas actuações deste colectivo britânico.
Substitutos dos cancelados Nevermore, os Devin Townsend Project são, definitivamente, uma das melhores apostas deste edição do VOA. Trata-se do projecto de pendor new age (e não só) do hiper-activo e eclético Devin Townsend (ou HevyDevy), que acaba de lançar os álbuns «Deconstruction» e «Ghost», que lhe têm valido os mais rasgados elogios da crítica.
Outro foco de grande expectativa é a presença de Ihsahn, cujo trabalho a solo produzido nos últimos anos chega a ser tão arrojado e relevante como o foram no passado os melhores álbuns dos lendários Emperor. A melhor prova disso foi dada em 2010 com «After». Neste concerto o multi-instrumentista norueguês far-se-á acompanhar por músicos dos compatriotas Leprous.
Mas há mais razões para não perder o VOA deste ano, e uma delas fica a dever-se à presença dos Tiamat. Embora o encanto produzido pelo clássico «Wildhoney» seja uma imagem longínqua que não mais se repetiu, há muito quem considere que a formação de Johan Edlund é ainda uma das propostas mais desafiantes do underground actual.
Complementando o luxuoso elenco composto pelas seis bandas referidas, o VOA apresenta ainda os thrashers revivalistas Essence, os finlandeses Kalmah e um contingente português que este ano é composto pelos Crushing Sun, autores do melhor disco nacional de 2010, os nortenhos Revolution Within, os We Are The Damned, considerados uma das grandes revelações dos últimos tempos, e por fim os leirienses Malevolence que se apresentam ao vivo pela primeira vez depois dum longo período de completa reclusão.
Os bilhetes estão à venda nos locais habituais pelos preços de 30€ para um dia, e 50€ para os dois dias. Para mais informação consultar www.vagosopenair.eu.

in Clip (Diário de Aveiro), 21 Julho 2011

TESSERACT

«One»
(Century Media, 2011) [8/10]

Impressionaram no final de 2010 com «Concealing Fate», um EP de uma só peça que deixou muita gente de queixo caído pela genialidade com que fundiu sensibilidades várias desde o post-core ao progressivo, num exercício com partes iguais de emoção e técnica. Agora, neste que é o primeiro longa duração, o jovem quinteto britânico volta a apresentar o material do EP (dado que foi lançado só na Europa e esteve disponível apenas em edição digital), juntamente com mais cinco inéditos (destaco “Nascent” e “April”), que apesar de não acrescentarem nada de novo ao que já conhecíamos do épico «Concealing Fate» (claramente, a grande saliência deste disco), mantêm o mesmo cunho sónico feito de ritmos pulsantes e de texturas e tempos invulgares, firmemente ancorados em influências de Meshuggah, Textures e outras formações congéneres. Para além do notável trabalho de percussão e de baixo, «One» é muito valorizado pelas linhas vocais (limpas - também as há berradas) de grande beleza de Daniel Tompkis, cujo tom emotivo por vezes até faz lembrar Ray Alder dos Fates Warning. É certo que as composições não incluem solos de guitarra na acepção mais tradicional do termo, contudo a verdade é que a música da formação de Milton Keynes é suficientemente rica em termos de estrutura e de atmosfera para se manter apelativa mesmo sem eles. Com muitas tiradas de génio, um grande sentido de coerência e uma produção apostada em criar um som ‘ao vivo em estúdio’, «One» é um álbum do melhor que já se ouviu no chamado género djent, e que se recomenda particularmente aos fãs das bandas supracitadas.

in Clip (Diário de Aveiro), 14 Julho 2011

segunda-feira, 20 de junho de 2011

A FOREST OF STARS

«Opportunistic Thieves of Spring»
(Lupus Lounge / Prophecy Productions, 2011) [9/10]

Publicado originalmente em meados de 2010, mas apenas do outro lado do Atlântico, chega-nos agora às mãos este brilhante segundo opus dos A Forest of Stars, um álbum que podemos arriscar descrever como uma fusão muito particular de estéticas doom e black metal, com uma grande variedade de aspectos ambientais, psicadélicos e sinfónicos. As composições são todas longas (entre 8 e 16’), desenvolvendo-se lenta e gradualmente entre passagens ritualistas de violino, flauta (ambos executados pela ex-My Dying Bride, Kati Stone) e piano, e segmentos avassaladores de riffs minimalistas e repetitivos de efeito hipnótico. Tirando a peça de abertura, “Sorrow’s impetus”, que é ao mesmo tempo a mais violenta e sombria e a menos interessante, tudo neste disco é grandioso e genial. O vocalista, Mr Curse, tem aqui uma performance impressionante que sobressai na sonoridade geral. Cada frase é pronunciada com uma postura quase teatral; uma convicção torturada que é particularmente notável no doomy “Summertide’s approach”, talvez pela forma como a cadência do ritmo base enfatiza as linhas vocais proferidas. Conquanto preserve o carácter estranho e oculto presente em «The Corpse of Rebirth», o disco anterior, este é, em média, um álbum bem mais fácil de assimilar, com música mais dinâmica e temas mais variados entre si – um trabalho melhor em todos os aspectos. Numa cena saturada de bandas sem imaginação, lá surge uma de vez em quando com o condão de induzir aquele raro arrepio na espinha que só acontece com as obras de excepção. Esta é uma delas.

in Clip (Diário de Aveiro), 16 Junho 2011

NECROPHOBIC

«Darkside»
(Hammerheart Records, 2011) [8.5/10]

Aquando do seu lançamento original, em 1997, valeu aos Necrophobic algumas duras criticas que os acusaram de terem abraçado uma moda então em franca ascensão: a do black/death melódico ao bom estilo dos compatriotas Dissection. Mas a verdade é que catorze anos depois este disco permanece como uma das melhores amostras dessa época de ouro pela qual o género atravessou, ilustrando ao mesmo tempo uma das fases mais criativas de sempre do grupo sueco. Quem não teve ainda o privilégio de ouvir esta admirável conjugação de bestialidade e beleza, tem aqui uma segunda oportunidade.

in Clip (Diário de Aveiro), 2 Junho 2011

FURIA

«Halny»
(Pagan Records, 2010) [8/10]

Autêntica pedrada no charco do metal formatado segundo regras e sonoridades de manual, «Halny» aglutina num só tema de 20 minutos, momentos tranquilos e psicadélicos resultantes de aparente improvisação (e reminiscentes, por vezes, dos Pan-Thy-Monium de Dan Swano), com sequências recorrentes típicas de rock pesado de tendências progressivas. O espírito é todo experimental e não tem rigorosamente nada que ver com o black metal que orientou a banda polaca até aqui, embora mantenha a produção caracteristicamente crua do estilo. Vale a pena descobrir.

in Clip (Diário de Aveiro), 2 Junho 2011

domingo, 29 de maio de 2011

MACABRE

«Grim Scary Tales»
(Hammerheart Records, 2011) [8 /10]

Depois de vinte e sete anos dedicados por inteiro a contar os feitos repugnantes dos mais notáveis assassinos psicopatas da história, os Macabre já mereciam, pelo menos, a atribuição de um doutoramento honoris causa num qualquer ramo da criminologia. Constituídos desde o primeiro dia por Corporate Death (guitarra, voz), Nefarious (baixo) e Dennis the Menace (bateria), o colectivo norte-americano é conhecido pelo seu característico ‘murder metal’, designação cunhada por eles próprios que se traduz numa estranha mescla de death, thrash e grind, com incursões frequentes em territórios estranhos ao metal, mas que funcionam bem e tendem a reforçar o humor negro das rimas jocosas que cantam. Esta é uma descrição particularmente adequada a este quinto registo de originais, um álbum um pouco menos extremo e mais apostado numa grande variedade desses tais elementos inusitados, que passam, por exemplo, pelo corridinho em estilo country de “The bloody Benders”, interpretado com um cómico sotaque sulista, pela trágica mas irresistível melodia de “Mary Ann”, pela lenga-lenga infantil de “Lizzy Borden” e pelos vocais operáticos em “Nero’s inferno”. Incluindo uma brilhante interpretação de “Countess Bathory”, original dos Venom, e especialmente concentrado desta vez nas atrocidades sangrentas de alguns dos mais infames serial killers de finais do séc. XIX, (cuidadosamente tratados na devida ordem cronológica) «Grim Scary Tales» é não só um inequívoco manifesto de talento do trio de Chicago mas, mais importante, um álbum divertido que promete arrancar mais do que alguns sorrisos.

in Clip (Diário de Aveiro), 26 Maio 2011

PURGATORY

«Necronataeon»
(War Anthem Records, 2011) [6.5/10]

«Necronataeon» é uma daquelas violentas tareias sónicas infligidas sem misericórdia e à boa moda antiga por uma metralha brutal e hiper rápida de death metal, ferozmente cuspida com tanto de convicção como de competência. Mas é uma tareia que não deixa cicatrizes para recordar. Com excepção do rugido arrancado das entranhas de um front-man que lembra Jan-Chris (Gorefest) e de alguns raros momentos que nos fazem levantar a cabeça, este é um disco de malhas mastigadas que, na sua maior parte, gritam monotonia e estagnação.

in Clip (Diário de Aveiro), 18 Maio 2011

PRIMORDIAL MELODY

«In Cold Blood Nihilism»
(edição de autor, 2010) [7/10]

Depois do ambicioso demo-CD «Critical Chaos», lançado em 2008, é com alguma surpresa que vejo os Primordial Melody (ou Primel, na sua habitual abreviatura) a reverterem, neste EP de estreia, para um estilo de death/thrash bastante mais objectivo e padronizado. É certo que se tratam de cinco temas executados com tudo no sítio, com malhas irresistíveis q.b. e uma sonoridade bem trabalhada, contudo esta abordagem mais directa acabou por transformar a formação de Chaves em mais uma entre a imensidão de bandas congéneres, afastando-os ao mesmo tempo dum caminho que parecia bem mais promissor.

in Clip (Diário de Aveiro), 18 Maio 2011

sexta-feira, 22 de abril de 2011

HAEIRESIS

«Transparent Vibrant Shadows»
(Inferna Profundus/Neo:Torment/Frenteuropa Records, 2011) [8/10]

Projecto a solo com origem na Lituânia, propõe neste álbum de estreia um interessante concentrado de black metal que junta tendências convencionais a algum do melhor vanguardismo do estilo. No lado mais tradicional sobressaem as influências de Emperor e Mayhem, nas suas respectivas encarnações mais recentes. Depois há toda uma componente industrial e dark ambient com referências sónicas que apontam para nomes de relevo desses quadrantes, como Aborym e sobretudo The Axis of Perdition. Aliás, não será por acaso que o disco conta com a participação de Brooke Johnson, o mentor dos Axis, em metade dos temas. O carácter industrial deve-se essencialmente à excelente percussão caracteristicamente maquinal e ao registo distorcido de voz em jeito de andróide maléfico do multi-instrumentista S.B. que me faz recuar ao tempo dos nossos saudosos Thormenthor. A uma abordagem já familiar de black metal a banda adiciona algumas mais-valias tais como padrões rítmicos complexos, acordes desarmónicos e linhas melódicas abstractas – tudo isto sem comprometer a estrutura das canções – o que faz desta uma proposta exigente e com o seu quê de refrescante. Com os melhores momentos guardados para o fim do disco na forma de faixas como “Surreale” e “Emptyroom”, «Transparent Vibrant Shadows» congrega todos os elementos para retratar com sucesso o ambiente frio e fantasmagórico de um asilo em ruínas (bem ilustrado no artwork), constituindo ao mesmo tempo uma experiência compensadora para quem procura alternativas mais futuristas nas vertentes extremas do metal.

in Clip (Diário de Aveiro), 14 Abril 2011

quarta-feira, 13 de abril de 2011

THE PROJECT HATE MCMXCIX

«Bleeding the New Apocalypse (Cum Victriciis in Manibus Armis)» (Season of Mist, 2011) [8.5/10]


Há uma grande diferença entre este e os discos anteriores dos TPH e essa diferença chama-se Ruby Roque. A ex-vocalista dos portugueses Witchbreed, que agora faz parte do grupo sueco em apreço, é efectivamente a principal responsável pelo afastamento dos TPH dum paradigma vocal já gasto: o duelo, celebrizado em muito gothic/death, entre voz feminina angelical e growler cavernoso. É que, contrariamente ao tom ingénuo e frágil da anterior Jonna Enckell, a voz de Ruby molda-se segundo o estilo tradicional de vocalistas como Kate French (Chastain), com um registo poderoso e de grande dinâmica, que se impõem de forma autoritária mesmo na presença de um monstro como Jörgen Sandström. O facto de Ruby cantar quase sempre em notas altas e segundo linhas melódicas distintas, é um aspecto que pode dificultar a assimilação da mudança. No entanto, ao fim de meia dúzia de audições tudo parece encaixar na perfeição. Musicalmente este é mais um passo de sucesso no sentido do aperfeiçoamento do cocktail único que Lord K Philipson tem vindo a desenvolver desde 1998, e que congrega, em longos épicos de 9 a 13’, as sonoridades extremas do death metal com passagens electrónicas e industriais, numa simbiose quase perfeita de brutalidade e beleza maquinal. Enriquecido uma vez mais pelos fantásticos solos de Mike Wead (King Diamond), pela voz de Christian Alvestam e, desta vez, pelo mítico Leif Edling (Candlemass), «Bleeding...» só peca pelo tremendo deja vu causado pela peça de manual didáctico que é o riff de abertura. Contudo é uma falsa partida que fica mais do que compensada pelo que vem a seguir.

in Clip (Diário de Aveiro), 24 Março 2011

CRUSHING SUN

«Tao» (Major Label Industries, 2010) [8/10]
Esqueçam o que ouviram em 2008 no split com os EAK, pois estes são os novos Crushing Sun. Em lugar de rajadas disparadas em todas as direcções, o que o colectivo apresenta agora é um metal moderno e vigoroso, mais contido na agressão, mas que não prescinde da sua dose letal de riffs death. Mais importante é sem dúvida a nova abertura a um espectro de influências mais alargado – que não compromete a coerência do todo – bem como a admirável progressão na qualidade das composições. Uma das boas surpresas nacionais do ano.

in Clip (Diário de Aveiro), 10 Março 2011

MORBID CARNAGE

«Night Assassins» (Pulverised Records, 2010) [6.5/10]
Apesar de não estarmos certamente perante uns Evile ou uns Pitch Black, e de já não haver pachorra para esta imagem estafada de machões violentos e acéfalos, há que reconhecer nestes húngaros alguma capacidade para reavivar o entusiasmo pelo velho thrash metal. Sem surpresas, «Night Assassins» é uma torneira aberta de malhas sujas e rasgadas, energicamente articuladas por uma maquinaria infernal bem oleada, que nos transporta até às glórias dos 80s protagonizadas por lendas como Slayer e Kreator. Uma estreia decente, mas só para fanáticos do género.

in Clip (Diário de Aveiro), 10 Março 2011

sábado, 5 de março de 2011

DEATHSPELL OMEGA

«Paracletus»
(Norma Evangelium Diaboli/Season of Mist, 2010) [8/10]

Quando Dante descreveu a verdadeira arte como algo que é cruel por definição, bem podia ter em mente o equivalente do séc. XIV ao trabalho produzido nos últimos sete anos pelos Deathspell Omega. Desde que gravaram «Si Monumentum Requires, Circumspice», em 2004, o nome do obscuro trio gaulês passou a ficar associado a uma aterradora e original metamorfose de black metal, de composição torcida e sonoridade malévola, capaz de nos transportar até ao limiar de mundos infernais e sub-humanos. Este quinto registo de originais continua na senda avantgarde das estruturas irregulares e ultra-complexas do anterior «Faz-Ite, Maledicti, in Ignem Aeternum», mas apresenta-se mais cravejado de dissonâncias e menos caótico, chegando até ao ponto de soar melódico (!). Mas não se iludam: «Paracletus» é feio e perturbador. As blast-beats são particularmente violentas e mesmo os momentos tranquilos não produzem qualquer sensação de conforto. O vozeirão assustador de Mikko Aspa continua a dominar a actuação mas desta vez as lucubrações altamente intelectuais e metafísicas sobre o Homem e a sua relação com o divino/maligno são também proferidas, pontualmente, noutros registos vocais, e não apenas em inglês. Indiscutivelmente, este é o álbum que melhor implementa o ideal sónico que a banda começou a desenvolver em «Si Monumentum…». No entanto, é também evidente que lhe falta qualquer coisa para criar um impacto duradouro que persista para além da última faixa. Excessivamente dissonante? Anacrónico? Qualquer que seja a resposta, este é, sem dúvida, um disco só para quem procura desafios muito arriscados.

in Clip (Diário de Aveiro), 3 Março 2011

THULCANDRA

«Fallen Angel’s Dominion»
(Napalm Records) [6/10]

Pelos vistos Steffen Kummerer, dos Obscura, é tão doente pelos Dissection que montou, com a ajuda de alguns amigos, este projecto com o intuito de fazer algo “inspirado” na banda de Jon Nodtveidt. Pena é que a mão lhe tenha escorregado e a alegada inspiração tenha dado lugar a uma cópia a papel químico do estilo característico da histórica formação sueca. Claro que competência não lhe falta para recriar com sucesso a atmosfera gelada e as torrentes melódicas de blast-beats legadas para a posteridade num «The Somberlain». O problema é que, por melhor que ele o faça, o original é sempre preferível.

in Clip (Diário de Aveiro), 24 Fevereiro 2011

MIRROR OF DECEPTION

«A Smouldering Fire»
(Cyclone Empire) [7.5/10]

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São uma das mais antigas formações germânicas de doom metal tradicional e acabam de regressar com nova proposta centrada em riffs graves e massivos e cadências arrastadas ao bom velho estilo de bandas como Candlemass e Saint Vitus. Introspectivo, vagamente psicadélico, e claramente mais variado do que «Shards», este é um registo de altos e baixos, que tanto contém as melhores composições de sempre do quarteto, como temas relativamente pobres e desinteressantes.

in Clip (Diário de Aveiro), 24 Fevereiro 2011

domingo, 13 de fevereiro de 2011

HELRUNAR

«Sól»
(Lupus Lounge, 2011) [8/10]

Pode não vir a figurar nas listas dos melhores álbuns do ano, mas é com certeza o disco mais marcante até agora na carreira ainda florescente dos Helrunar. Um trabalho monumental em dois CDs, que vê a formação alemã descolar finalmente dos estereótipos sónicos de origem norueguesa que moldaram algo excessivamente o cru e directo «Baldr ok Íss», para progredir agora de forma determinada na direcção de um black metal musicalmente mais maduro e bem mais interessante. Desde o início esmagador de “Kollapsar” até ao desfecho apoteótico da faixa-título, «Sól» mostra a dupla Skald Draugir/Alsvartr a apostar desta vez numa composição mais variada, profunda e atmosférica, com andamentos mais lentos, sem esquecer os já habituais interlúdios acústicos e introspectivos. A primeira parte, «Sól I», inclui o material mais abrasivo e violento, enquanto «Sól II» é marcado pelas peças mais moderadas e experimentais. É nesta segunda parte que se identificam algumas inflexões que remetem de imediato (e de maneira talvez demasiado óbvia) para os compatriotas Secrets of the Moon. A sonoridade, sinistra e avassaladora, saída das mãos de Markus Stock, é aqui um elemento fundamental sem o qual o disco não teria o mesmo impacto. De lamentar desta vez, e mais do que nunca, o idioma nativo da banda, que dificulta o acesso à dimensão lírica, aparentemente extraordinária, deste trabalho conceptual. No fim fica a clara convicção de estarmos perante um colectivo capaz de levar a sua música para além do paradigma convencional, sendo «Sól», sem dúvida, um passo de gigante nesse sentido.

in Clip (Diário de Aveiro), 10 Fevereiro 2011

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

SEVERE TORTURE

«Slaughtered»
(Season of Mist, 2010) [7.5/10]

Com um lugar já conquistado entre as formações mais doentias do metal extremo, os holandeses Severe Torture mostram neste quinto registo que não é preciso inventar muito para produzir death metal de qualidade; basta conseguir o equilíbrio certo entre brutalidade e melodia e disparar no processo uma mão cheia de ganchos infecciosos que nos acertem em cheio naquele nervo mais sensível. O resultado?... Uma carnificina de riffs que nos revolve as entranhas, e da qual só escapamos com os tímpanos em sangue.

in Clip (Diário de Aveiro), 30 Dezembro 2010

KING OF ASGARD

«Fi’mbulvintr»
(Metal Blade, 2010) [7/10]

Projecto de dois membros dos extintos Mithotyn e um álbum que bem podia passar pelo disco de regresso desses antepassados dos Falconer. Menos apostado na ambiência black e mais voltado para um death pujante torneado por melodias folk, muito em linha com o estilo dos compatriotas Amon Amarth com alguns lampejos fustigantes a lembrar os Dawn, «Fi’mbulvintr» é um trabalho ao melhor nível no que se propõem oferecer, mas que não adiciona rigorosamente nada ao género – já de si muito explorado – em que se insere.

in Clip (Diário de Aveiro), 30 Dezembro 2010