sábado, 5 de março de 2011

DEATHSPELL OMEGA

«Paracletus»
(Norma Evangelium Diaboli/Season of Mist, 2010) [8/10]

Quando Dante descreveu a verdadeira arte como algo que é cruel por definição, bem podia ter em mente o equivalente do séc. XIV ao trabalho produzido nos últimos sete anos pelos Deathspell Omega. Desde que gravaram «Si Monumentum Requires, Circumspice», em 2004, o nome do obscuro trio gaulês passou a ficar associado a uma aterradora e original metamorfose de black metal, de composição torcida e sonoridade malévola, capaz de nos transportar até ao limiar de mundos infernais e sub-humanos. Este quinto registo de originais continua na senda avantgarde das estruturas irregulares e ultra-complexas do anterior «Faz-Ite, Maledicti, in Ignem Aeternum», mas apresenta-se mais cravejado de dissonâncias e menos caótico, chegando até ao ponto de soar melódico (!). Mas não se iludam: «Paracletus» é feio e perturbador. As blast-beats são particularmente violentas e mesmo os momentos tranquilos não produzem qualquer sensação de conforto. O vozeirão assustador de Mikko Aspa continua a dominar a actuação mas desta vez as lucubrações altamente intelectuais e metafísicas sobre o Homem e a sua relação com o divino/maligno são também proferidas, pontualmente, noutros registos vocais, e não apenas em inglês. Indiscutivelmente, este é o álbum que melhor implementa o ideal sónico que a banda começou a desenvolver em «Si Monumentum…». No entanto, é também evidente que lhe falta qualquer coisa para criar um impacto duradouro que persista para além da última faixa. Excessivamente dissonante? Anacrónico? Qualquer que seja a resposta, este é, sem dúvida, um disco só para quem procura desafios muito arriscados.

in Clip (Diário de Aveiro), 3 Março 2011

THULCANDRA

«Fallen Angel’s Dominion»
(Napalm Records) [6/10]

Pelos vistos Steffen Kummerer, dos Obscura, é tão doente pelos Dissection que montou, com a ajuda de alguns amigos, este projecto com o intuito de fazer algo “inspirado” na banda de Jon Nodtveidt. Pena é que a mão lhe tenha escorregado e a alegada inspiração tenha dado lugar a uma cópia a papel químico do estilo característico da histórica formação sueca. Claro que competência não lhe falta para recriar com sucesso a atmosfera gelada e as torrentes melódicas de blast-beats legadas para a posteridade num «The Somberlain». O problema é que, por melhor que ele o faça, o original é sempre preferível.

in Clip (Diário de Aveiro), 24 Fevereiro 2011

MIRROR OF DECEPTION

«A Smouldering Fire»
(Cyclone Empire) [7.5/10]

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São uma das mais antigas formações germânicas de doom metal tradicional e acabam de regressar com nova proposta centrada em riffs graves e massivos e cadências arrastadas ao bom velho estilo de bandas como Candlemass e Saint Vitus. Introspectivo, vagamente psicadélico, e claramente mais variado do que «Shards», este é um registo de altos e baixos, que tanto contém as melhores composições de sempre do quarteto, como temas relativamente pobres e desinteressantes.

in Clip (Diário de Aveiro), 24 Fevereiro 2011