sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

ATHEIST

«Jupiter»
(Season of Mist, 2010) [8.5/10]

Para uma banda lendária como os Atheist – que lançou, no início dos 90s, através de três álbuns incontornáveis, as sementes do chamado death metal progressivo, vindo a desaparecer logo a seguir – um disco de regresso só podia ser esperado com grande ansiedade. Estaria o colectivo da Florida a congeminar, dezassete anos depois, algo comparável a uma obra-prima como «Elements»? Agora que o facto está consumado, a resposta é, definitivamente, não. Contudo, «Jupiter» não deixa de ser um álbum distintamente Atheist: muito daquilo que sempre fascinou os entusiastas da banda, designadamente a proficiência técnica com que debitam riffs enviesados, transições nervosas e leads alucinantes em composições muito complexas – tudo continua aqui presente. Algumas passagens chegam mesmo a invocar o extraordinário «Unquestionable Presence». Kelly Shaefer mantém o seu jeito thrashy e obnóxio de esfarrapador de cordas vocais (além de excelente letrista), enquanto o outro membro da formação original, o baterista Steve Flynn, volta a presentear-nos com uma exibição de cair o queixo que monopoliza todas as atenções. Assim, os fãs têm aqui, pelo menos o essencial para não se sentirem defraudados. No entanto também é verdade que este novo registo não tem a mística nem a qualidade absolutamente orgásmica dos dois álbuns anteriores. Alguns temas soam demasiado desconjuntados e insípidos para conseguirem prender o ouvinte, mesmo depois de alguma insistência. Porém, se observado apenas na justa perspectiva do death/thrash metal técnico que tem sido produzido nos últimos anos, este é sem dúvida um disco ao nível do melhor do género.

in Clip (Diário de Aveiro), 30 Dezembro 2010

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

NECRONAUT

«Necronaut»
(Regain Records, 2010) [7.5/10]

Com três anos de gestação, aí está finalmente o primeiro resultado do projecto que tem sido a menina dos olhos de Fred Estby desde que abandonou os Dismember. E não se trata simplesmente de death metal como o nome do histórico baterista e produtor sueco poderá sugerir. Aqui Estby dá largas a outras preferências pessoais que passam também pelo heavy tradicional, thrash e doom, embora mantenha as guitarras permanentemente afinadas a fundo nos graves, com aquele som primitivo de moto-serra tão típico do death escandinavo mais old-school. E para concretizar da melhor maneira este objectivo “multidisciplinar”, convidou uma horda de ilustres conterrâneos que deixam aqui a sua marca em temas que valem a pena ouvir. Entre os momentos mais viciantes destacam-se “Twilight at the trenches”, um corridinho que não deixa ninguém imóvel, interpretado pelo ex-Edge of Sanity Andreas Axelsson, e “In dark tribute”, um meio tempo em estilo Entombed com a carga malévola de dois Nifelheim: Hellbutcher (voz) e Tyrant (guitarra). JB, dos Grand Magus, empresta magistralmente a voz em “Soulside serpents”, um tema muito à Iron Maiden, reaparecendo depois na guitarra em “Returning to kill the light”, ao lado de Erik Danielsson, a diabólica voz dos Watain, naquela que é uma das mais inusitadas combinações do álbum. Chris Reifert, dos Autopsy, tem o seu registo cavernoso impresso em dois temas, e até o próprio Estby exercita a laringe com a garra dum Tom Araya numa faixa que é um verdadeiro tributo aos Slayer. Não sendo essencial, «Necronaut» vale pela curiosidade das colaborações e pela variedade do resultado.

in Clip (Diário de Aveiro), 9 Dezembro 2010

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

IN MOURNING

«Monolith»
(Pulverised Records, 2010) [9/10]


«Shrouded Divine» distinguiu-os como uma das grandes revelações de 2008 e este segundo álbum confirma que estamos de facto perante um portento de talento, com algo de novo para oferecer no quadrante do death metal progressivo de tendências melancólicas. Isento agora das alusões Opethianas do passado, «Monolith» apresenta-se criativo e mais rebuscado, com um trabalho rítmico notável, cheio de voltas inesperadas, e um cuidado particular devotado à coerência musical dos temas. Altamente recomendado.

in Clip (Diário de Aveiro), 2 Dezembro 2010

CYNIC

«Re-Traced»
(Season of Mist, 2010) [5.5/10]


Servindo-se de estéticas electrónicas e ambientais, Masvidal e companhia reinterpretam aqui quatro temas de «Traced in Air», com resultados que deixam muito a desejar. Partindo das estruturas melódicas de base, os temas foram reduzidos a um experimentalismo minimalista que lhes subtraiu dinâmica, sacrificando no processo muitos dos detalhes que fazem o encanto das versões originais. O inédito «Wheels within wheels», recuperado das sessões de gravação do álbum de 2008, compensa parcialmente o desastre.

in Clip (Diário de Aveiro), 2 Dezembro 2010