«Hatred for Mankind» (Prosthetic Records, 2011) [8.5/10]
Lançado para o mundo originalmente em 2009 pela mesma editora que apostou anos antes nos necro extremistas Anaal Nathrakh, partilham com estes a convicção niilista com que debitam uma sonoridade corrosiva e devastadoramente apocalíptica. E ao fazê-lo movem-se sem esforço entre o sludge do doom e descargas black, cuspindo pelo meio torrentes de riffs cortantes como serras rombudas, acompanhadas de rugidos guturais e gritos dilacerantes que induzem o equivalente a um potente shot de adrenalina que nos mantém em permanente estado de alerta. Fascinante e perturbador.
«In Metal We Trust» (Black Leather Records, 2011) [2/10]
Embora a crise de ideias que grassa em todos os sectores do metal nos torne mais condescendentes com os artistas, há coisas que não resistem à mais cristã das tolerâncias. É o caso deste álbum: uma verdadeira e descarada antologia de todos os clichés mais pirosos, repetidos ad nauseam ao longo da década de 80. Nada, mas mesmo nada neste disco – nas estruturas e nos riffs bafientos de base, nos títulos das canções e do álbum, nas frases feitas das letras, nos coros risíveis e na capa de mau gosto – é uma criação genuína dos Pegazus. Não confundir por favor com revivalismo – isto é plágio; é fraude!
Já é uma referência incontornável no roteiro de festivais nacionais de metal e está a poucas semanas de regressar com um cartaz preenchido, uma vez mais, por alguns dos nomes mais sonantes – e desejados – da música extrema actual. Das doze bandas que irão marcar presença nesta 3ª edição do Vagos Open Air, destacam-se desde logo os suecos Opeth, a banda do génio Mikael Akerfeldt que já completou duas décadas de uma sólida carreira e está a poucos meses de lançar «Heritage», o décimo registo de originais. Quem já os viu ao vivo, sabe que são mesmo especiais. Igualmente a encabeçar o cartaz estão os Morbid Angel, um dos símbolos monstruosos do death metal norte-americano, que trazem na bagagem ainda a borbulhar o novíssimo «Illud Divinum Insanus». O facto da banda contar novamente, volvidos dezasseis anos, com o lendário vocalista David Vincent, será sem dúvida um motivo adicional para tornar este concerto imperdível. Os Anathema, que já passaram pelo nosso país diversas vezes, trazem ao VOA o rock indie, melódico e atmosférico, dos seus últimos lançamentos, incluindo o ainda bem presente «We're Here Because We're Here». Do híbrido death/doom que ajudaram a criar no início dos 90s ficou a faceta introspectiva que é sempre patente nas actuações deste colectivo britânico. Substitutos dos cancelados Nevermore, os Devin Townsend Project são, definitivamente, uma das melhores apostas deste edição do VOA. Trata-se do projecto de pendor new age (e não só) do hiper-activo e eclético Devin Townsend (ou HevyDevy), que acaba de lançar os álbuns «Deconstruction» e «Ghost», que lhe têm valido os mais rasgados elogios da crítica. Outro foco de grande expectativa é a presença de Ihsahn, cujo trabalho a solo produzido nos últimos anos chega a ser tão arrojado e relevante como o foram no passado os melhores álbuns dos lendários Emperor. A melhor prova disso foi dada em 2010 com «After». Neste concerto o multi-instrumentista norueguês far-se-á acompanhar por músicos dos compatriotas Leprous. Mas há mais razões para não perder o VOA deste ano, e uma delas fica a dever-se à presença dos Tiamat. Embora o encanto produzido pelo clássico «Wildhoney» seja uma imagem longínqua que não mais se repetiu, há muito quem considere que a formação de Johan Edlund é ainda uma das propostas mais desafiantes do underground actual. Complementando o luxuoso elenco composto pelas seis bandas referidas, o VOA apresenta ainda os thrashers revivalistas Essence, os finlandeses Kalmah e um contingente português que este ano é composto pelos Crushing Sun, autores do melhor disco nacional de 2010, os nortenhos Revolution Within, os We Are The Damned, considerados uma das grandes revelações dos últimos tempos, e por fim os leirienses Malevolence que se apresentam ao vivo pela primeira vez depois dum longo período de completa reclusão. Os bilhetes estão à venda nos locais habituais pelos preços de 30€ para um dia, e 50€ para os dois dias. Para mais informação consultar www.vagosopenair.eu.
Impressionaram no final de 2010 com «Concealing Fate», um EP de uma só peça que deixou muita gente de queixo caído pela genialidade com que fundiu sensibilidades várias desde o post-core ao progressivo, num exercício com partes iguais de emoção e técnica. Agora, neste que é o primeiro longa duração, o jovem quinteto britânico volta a apresentar o material do EP (dado que foi lançado só na Europa e esteve disponível apenas em edição digital), juntamente com mais cinco inéditos (destaco “Nascent” e “April”), que apesar de não acrescentarem nada de novo ao que já conhecíamos do épico «Concealing Fate» (claramente, a grande saliência deste disco), mantêm o mesmo cunho sónico feito de ritmos pulsantes e de texturas e tempos invulgares, firmemente ancorados em influências de Meshuggah, Textures e outras formações congéneres. Para além do notável trabalho de percussão e de baixo, «One» é muito valorizado pelas linhas vocais (limpas - também as há berradas) de grande beleza de Daniel Tompkis, cujo tom emotivo por vezes até faz lembrar Ray Alder dos Fates Warning. É certo que as composições não incluem solos de guitarra na acepção mais tradicional do termo, contudo a verdade é que a música da formação de Milton Keynes é suficientemente rica em termos de estrutura e de atmosfera para se manter apelativa mesmo sem eles. Com muitas tiradas de génio, um grande sentido de coerência e uma produção apostada em criar um som ‘ao vivo em estúdio’, «One» é um álbum do melhor que já se ouviu no chamado género djent, e que se recomenda particularmente aos fãs das bandas supracitadas.