segunda-feira, 30 de junho de 2008

THANATOSCHIZO

«Zoom Code»
(My Kingdom Music, 2008) [9/10]

Quatro anos depois de assinarem o melhor álbum luso de 2004, «Turbulence», o colectivo originário de Santa Marta de Penaguião volta a surpreender com um novo disco ainda mais ambicioso, que expande o seu estilo já distintivo por caminhos estéticos mais abstractos e ecléticos. Os temas fervilham de passagens vistosas e detalhes instrumentais que fazem deste o trabalho musicalmente mais rico jamais produzido pelos ThanatoSchizO. A música move-se por terrenos progressivos e experimentais, incluindo aqui e ali motivos étnicos integrados na própria composição e sugeridos por instrumentos tradicionais como a concertina, assim como elementos electrónicos mais ou menos subtis. Este alargamento a dimensões artísticas mais amplas e variadas resultou num aligeirar da intensidade dos elementos sonoros mais extremos, e consequentemente num álbum que soa mais acessível. Como é óbvio isto é relativo, uma vez que Eduardo Paulo continua a marcar presença com o seu vozeirão atroador e a sonoridade geral ainda toca as franjas do death metal. Ainda no campo das vozes é forçoso salientar a Patrícia Rodrigues pela manifesta evolução técnica de disco para disco, culminando aqui na sua prestação mais segura e irrepreensível. Com pequenas mas valiosas contribuições do ex-Dodheimsgard Svein Hatlevik e Timb Harris dos Estradasphere, «Zoom Code» constitui o trabalho mais extraordinário dum grupo que se tem vindo a afirmar como um caso sério de criatividade no panorama nacional, e que é pois urgente descobrir.

in CLIP (Diário de Aveiro), 26 Junho 2008

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Edição de Junho 24, 2008

Na 2ª Hora
Entrevista com Anders Jacobsson, vocalista dos suecos DRACONIAN, a propósito do novo álbum «Turning Season Within».

- "A imprensa foi sempre muito favorável em relação aos nossos discos"
- "Há dez anos as nossas referências musicais eram mais românticas e góticas. Actualmente são mais progressivas e, claro, doom"
- "A maioria das pessoas tem muito mau gosto musical. É por esse motivo que quase toda a música mainstream é uma merda!"
(Anders Jacobsson)

sexta-feira, 13 de junho de 2008

OBTEST

«Gyvybës Medis»
(Osmose Productions, 2008) [9/10]

Segundo uma analogia futebolística usada pelos membros dos Obtest, este novo álbum de estúdio é como uma promoção à primeira liga. E é mesmo. Senão vejamos: em dezasseis anos de carreira é o primeiro disco a ser registado num estúdio profissional, apresentando uma qualidade sonora e de produção que não só faz justiça ao talento do quinteto originário de Vilnius, Lituânia, como deixa a anos-luz qualquer um dos sete trabalhos anteriores. A qualidade das composições também melhorou bastante. O cunho pagan metal continua presente nos conteúdos líricos muito ligados ao folk báltico, na imagem e na filosofia geral subjacente à banda, no entanto a música ramifica-se de influências que vão desde o heavy metal tradicional ao power metal, sendo marcada por um virtuosismo invulgar na guitarra solo que adquire neste trabalho um protagonismo sem precedentes na discografia do colectivo. Mais melódico do que o anterior “Is Kartos Á Kartr” e interpretado, como sempre, no idioma nativo do grupo sem por isso se tornar menos atractivo, «Gyvybës Medis» é um trabalho refrescante e o primeiro dos Obtest a beneficiar duma máquina promocional à altura do seu valor.

in CLIP (Diário de Aveiro), 12 Junho 2008

domingo, 8 de junho de 2008

SJODOGG

«Landscapes of Disease and Decadence»
(Osmose Productions, 2008) [8/10]

Há qualquer coisa de excepcionalmente compulsivo na abordagem black metal dos Sjodogg que tem mantido este disco no meu leitor durante mais tempo do que é habitual. Em lugar de colocar a tónica em tiradas rápidas ou rajadas demolidoras, a composição concentra-se mais na produção de uma atmosfera permanentemente negra e esmagadora. As erupções velozes também lá estão, claro, mas surgem intercaladas entre segmentos lentos e algumas passagens acústicas. Com frequência, acordes sinistros de uma guitarra distante são ouvidos sobre uma base percussiva apressada, um contraste que, de alguma forma, enfatiza o carácter sombrio da música, trazendo ocasionalmente à mente nomes como Secrets of the Moon ou Blut Aus Nord. Outro aspecto atractivo é a entoação gutural de Vulnus, sempre carregada de emoção e variando de registo ao longo de cada tema, passando por partes declamadas ou excertos de voz quase limpa, numa interpretação que injecta algo de teatral nas canções. «Landscapes of Disease and Decadence» é um álbum de estreia que deixa a impressão de um certo potencial criativo ainda por explorar, e por conseguinte as melhores expectativas futuras nos Sjodogg.

in CLIP (Diário de Aveiro), 5 Junho 2008