quinta-feira, 31 de julho de 2008

ETERNAL DEFORMITY

«Frozen Circus»
(Code666, 2008) [8.5/10]

O nome é típico de banda de thrash dos anos 90 mas a editora sugere uma sonoridade bem mais moderna, e é disso mesmo que se trata. Para além de assentar numa espinha dorsal bem extrema, a música deste quinteto polaco reveste-se de sofisticados arranjos fortemente baseados em teclados e violinos, melodias cativantes, atmosferas góticas e alguns apontamentos de virtuosismo. O que fazem não é propriamente inovador, mas ainda assim há algo de genuíno na combinação entre o toque pessoal e dinâmico que conferem às suas composições levemente progressivas, e a magnífica voz de Przemyslaw Kajnet que se distingue particularmente no seu registo mais limpo. Apesar de ser o quarto longa duração do colectivo (e o primeiro a ter a mão de uma editora externa ao grupo), este é um trabalho muito diferente do álbum anterior, o estranho «The Serpent Design», provavelmente fruto da entrada dos novos teclista e baterista, e da evolução da banda nestes últimos cinco anos. Com claras alusões textuais e sónicas ao espectáculo circense, «Frozen Circus» é um disco refrescante e cheio de boas ideias, que promete arrebatar, finalmente, os Eternal Deformity do anonimato.

in CLIP (Diário de Aveiro), 31 Julho 2008

sábado, 19 de julho de 2008

Edição de Julho 22, 2008

Na 2ª Hora

Entrevista com Alejandro Arce, baterista dos chilenos MAR DE GRISES, a propósito do novo álbum «Draining the Waterheart».

- "Num país como o Chile é geralmente muito difícil dispor do tempo e dos recursos que uma banda exige para atingir um nível profissional"
- "Vários comentadores têm referido que este álbum é muito diferente do «Tatterdemalion...», mas eu não concordo"
- "Na última digressão Europeia o Barroselas Metalfest foi sem dúvida o maior festival por onde passamos"
(Alejandro)

quinta-feira, 17 de julho de 2008

REQUIEM LAUS

«The Eternal Plague»
(666 Productions, 2008) [6.5/10]

Ilustres representantes insulares do metal luso e um dos nomes mais proeminentes do underground nacional desde meados da década de 90 com um invejável registo de demo-tapes de qualidade, os Requiem Laus já há muito estavam em falta com o tão aguardado álbum de estreia. Gravado na Suécia com Pelle Saether nos comandos, «The Eternal Plague» não esconde a grande admiração que a banda nutre pelo legado intemporal de Chuck Schuldiner, incorporando também algumas novidades e aperfeiçoamentos de composição que se traduzem nos melhores temas de death metal alguma vez gravados pelo colectivo Madeirense. Pena é que estes atributos não se apliquem à generalidade do álbum. De facto, só depois da terceira faixa, quando a banda tira o pé do acelerador e volta aos andamentos a meio tempo que lhe são mais favoráveis, injectando alguma criatividade, é que o disco começa a despertar interesse. Mas mesmo aí surgem frequentemente pelo meio riffs ou passagens demasiado genéricas, e a bateria soa muitas vezes uma tanto ou quanto maquinal. Em suma, um disco que não deixa dúvidas quanto à experiência considerável da formação, mas que não exibe o engenho que se esperaria de uma banda com dezasseis anos de actividade.

in CLIP (Diário de Aveiro), 17 Julho 2008

sexta-feira, 11 de julho de 2008

ESOTERIC

«The Maniacal Vale»
(Season of Mist, 2008) [9/10]

Numa época dominada pela busca do prazer imediato e em que o intervalo de atenção médio não ultrapassa as poucas dezenas de segundos, os Esoteric cada vez mais se destacam como uma anomalia pela insistência numa abordagem que exige muito do ouvinte, não só pelos temas que quase sempre rondam os dez a vinte minutos de duração, como pela natureza quase impenetrável dos seus trabalhos. O novo álbum do colectivo de Birmingham é assim mais um lançamento volumoso, com mais de cem minutos de música dividida por dois CDs, que nos transporta para lá de todas as convenções e em direcção às profundezas sombrias da mente dos seus criadores. Partindo de um doom tortuoso já muito burilado em discos anteriores, o novo álbum adiciona elementos psicadélicos e até alguns andamentos rápidos. A música move-se gradualmente por cumes e vales de intensidade, intercalando explosões de riffs esmagadores, vozes cavernosas e gritos desesperados, com segmentos mais experimentais, solos de guitarra hipnóticos e momentos tranquilos de transe ambiental. De audição difícil e até exaustiva, «The Maniacal Vale» é um disco que se recomenda apenas aos amantes dos géneros mais negros e introspectivos.

in CLIP (Diário de Aveiro), 10 Julho 2008

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Edição de Julho 8, 2008

Na 2ª Hora

Entrevista com Pierre Stam, baixista dos suecos IN MOURNING, a propósito do álbum «Shrouded Divine».

- "Embora este seja o nosso primeiro álbum, não sentimos este disco como uma estreia pois já tocámos e gravamos juntos há muitos anos"
- "Temos consciência da nossa qualidade mas ainda assim ficamos surpreendidos com a quantidade de reacções positivas que o disco suscitou dos media"
(Pierre Stam)
INFO: Em Outubro In Mourning ao vivo em Portugal, em Braga e Lisboa.

IN MOURNING

«Shrouded Divine»
(Aftermath Music, 2008) [9/10]

Este é seguramente um dos melhores discos de estreia dos últimos anos. Não se trata de doom metal como o nome da formação sueca poderá sugerir, mas sim death melódico e progressivo capaz de fazer inveja a muitas bandas com créditos firmados na cena. Apesar de conter referências claras a Opeth no que toca a sonoridade e em alguns aspectos estruturais, «Shrouded Divine» é um trabalho que se distancia o suficiente do estilo de Akerfeldt pela sua abordagem mais directa e acessível. Sem grandes complexidades a composição é criativa, trabalhada ao ínfimo detalhe, e do mais inteligente e maduro que é possível encontrar, com riffs geniais debitados por um trio de guitarras, transições memoráveis e alguns leads de rara beleza, por vezes a fazer lembrar até o lendário Andy Latimer (Camel). Tobias Netzell oferece uma prestação vocal excelente que percorre todo o espectro brutal, desde o gutural mais grave à aspereza típica do black metal, passando pelo seu registo natural nos momentos mais tranquilos da música. Muito variado mas sem se perder por um momento em divagações incoerentes, este é um disco espectacular de uma banda com o seu quê de novo para oferecer.

in CLIP (Diário de Aveiro), 3 Julho 2008