quinta-feira, 30 de setembro de 2010

WATAIN

«Lawless Darkness»
(Season of Mist, 2010) [8.5/10]

Se «Sworn to the Dark», o álbum anterior dos Watain, soou como uma colagem estilística evidente mas ainda assim bem-vinda a bandas como Dissection e Dawn, o mesmo já não se poderá dizer deste novo registo de estúdio. O que não é propriamente motivo para alarme: os fãs daquelas magníficas melodias desoladas celebrizadas pela banda do malogrado Jon Nordveit, podem dormir descansados pois estas continuam a surgir aqui no seu melhor por entre riffs old-school, embora de uma forma mais subtil. Mas embora dependa muito menos desses elementos, o que se salienta em «Lawless Darkness» é o arsenal de influências thrash e heavy tradicional que o trio sueco recupera do seu passado remoto, traduzindo-as em malhas tão inesperadas que por vezes nos esquecemos que estamos a ouvir uma banda de black metal. É o que acontece de forma notória no ambicioso “Waters of Ain”, em especial naquele grande final apoteótico, bem como nos leads de “Total funeral”. Outros temas dignos de nota são os brilhantes “Hymn to Qayin” e “Kiss of death”, estes sem solos, e mais em linha com o que ouvimos do colectivo de Uppsala nos dois discos anteriores. Apesar de modesto no que toca a aspectos de originalidade, este quarto longa duração ganha pelo nível superior de composição que exibe, tanto nas passagens melódicas de beleza diabólica, como nos segmentos mais furiosamente punitivos. Liricamente, não há surpresas: este é mais um monumento erigido às forças da escuridão, com uma intensidade blasfema suficiente para pulverizar de um sopro meia dúzia de congregações religiosas.

in Clip (Diário de Aveiro), 2 Setembro 2010

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

NACHTMYSTIUM

«Addicts: Black Meddle pt.2»
(Candlelight, 2010) [9/10]

Um álbum invulgar, sem dúvida, tendo em conta o meio extremo em que se insere, mas que não surpreende face ao percurso artístico da banda em causa. De facto, depois do alucinogénio «Assassins», a opção por uma abordagem menos psicadélica e mais rock‘n’roll patente neste segundo tomo de «Black Meddle», soa até como um seguimento natural. Da estética extrema do black metal que moldou originalmente o colectivo norte-americano, resta agora pouco mais do que a voz rouca do líder Blake Judd, bem como um som caracteristicamente sujo que, na verdade, joga muito a favor do hard-rock retro que pauta mais de metade dos temas. Na sua maior parte «Addicts» é um álbum cheio de composições padronizadas mas plenas de balanço, com refrães apunkalhados que não nos saem mais da cabeça, e ganchos que soam bizarros de tão catchy, havendo até espaço para alguns devaneios pop. Aquele loop incessantemente ondulante em «No funeral» fica para a posteridade como um das ideias mais desconcertantes em todo o álbum. E os solos muito vintage saídos das seis cordas dos convidados Matt Johnson (Pharaoh) e do ex-Pentagram Russ Strahan conjuram da melhor maneira o espírito revivalista que a banda pretende invocar. À primeira impressão, «Addicts» poderá soar como uma incursão excessiva em universos distantes, mas no fim a sensação que perdura é a de uma combinação muito bem conseguida entre o rock/punk dos 70s e a crueza típica das sonoridades mais negras do metal.

in Clip (Diário de Aveiro), 5 Agosto 2010