sábado, 29 de maio de 2010

GWYDION

«Horne Triskelion»
(Trollzorn Records, 2010) [7/10]

Embora a colonização Viking dos séculos VIII a XI não se tenha alastrado até à nossa costa, o imaginário aventureiro destes bárbaros do norte já há muito que conquistou a praia dos portugueses Gwydion. Este segundo álbum irá certamente agradar aos incondicionais do folk metal nórdico ao estilo de bandas como Finntroll, Tyr e Turisas, com as suas melodias ora sumptuosas ora festivas, conduzidas por teclados ou instrumentos tradicionais sobre uma secção rítmica possante, e com os habituais coros masculinos taberneiros a invocar sempre imagens de guerreiros ébrios a agitar canecas de cerveja. É impossível ficar indiferente a temas como “From Hel to Asgard”, “Triskelion horde is nigh” ou mesmo “Ofiússa (A terra das serpentes)”, com os seus contornos sinfónicos, vozes femininas muito bem colocadas e até uma breve passagem cantada em português. A evolução registada em relação a “Ynys Mön”, o primeiro álbum, é notória, tanto do ponto de vista da composição, cujos meandros a banda parece já dominar com alguma maturidade, como no departamento sonoro, com a mistura entregue desta vez a Børge Finstad (Mayhem, Enslaved), com resultados a roçar o excelente. O único aspecto menos abonatório a apontar ao colectivo de Lisboa é mesmo a excessiva colagem ao folk folgazão tão característico das bandas supra citadas e, em particular, a algumas melodias ou acordes que parecem já recorrentes no género. Como não se trata de falta de talento ficamos à espera de ver adicionado à música dos Gwydion um cunho mais pessoal que os torne distintos num estilo já de si bastante concorrido.

in CLIP (Diário de Aveiro), 27 Maio 2010

sexta-feira, 21 de maio de 2010

ACRASSICAUDA

«Only the Dead see the end of the War»
(Vice Records, 2010) [6.5/10]

Só o facto de serem provenientes da Bagdad do período pós Saddam, e de contarem com o orgulho de metalheads uma história de perseguição e ameaças de morte que os levou a exilarem-se primeiro na Síria, depois na Turquia e, por fim, já longe da demência islâmica, em Brooklyn, Nova York, deve ser suficiente para reconhecermos nestes iraquianos, a perseverança e os tomates que nós, ocidentais, com os nossos pequenos caprichos, nem sonhávamos ser possível. Mais do que qualquer banda de heavy metal, os Acrassicauda experimentaram, até meados de 2008, uma vivência literalmente “heavy metal”, e este primeiro trabalho, gravado já nos Estados Unidos, é disso um testemunho vívido. Produzido por Alex Skolnick (Testament) e fortemente influenciado pelos ícones do thrash que lhes serviram de inspiração desde o primeiro dia, o EP abre incisivo com “Message from Baghdad”, cujas malhas remetem desde logo para os Metallica dos 80s, ou mesmo para os Sepultura da fase “Arise”. O tema seguinte, “Garden of stones”, já aparece tingido de linhas melódicas e percussões do Médio Oriente, incluindo também alguns leads de se lhe tirar o chapéu. “Massacre” salienta-se pela raiva e desespero que os seus versos canalizam, e pelo tom vocal de Faisal Talal que nos obriga a recuar aos melhores momentos de James Hetfield. “The unknown” termina com mais meia dúzia de riffs encorpados e galopantes, daqueles que têm o estranho poder de induzir uma desenfreada agitação de cabeças. Depois do retrato heróico apresentado em “Heavy Metal in Baghdad”, aqui fica o imprescindível depoimento áudio dos Acrassicauda.

in CLIP (Diário de Aveiro), 20 Maio 2010

sábado, 15 de maio de 2010

Edição de Maio 25, 2010

Entrevista com Oyvind Winther
guitarrista dos noruegueses ANTARES PREDATOR a propósito do álbum «Twilight of the Apocalypse».

- "Não esperava receber (tantas) criticas negativas. Provavelmente as pessoas não perceberam bem o álbum. Talvez o título tenha sugerido, erradamente, algo relacionado com profecias do fim do mundo, como no filme «2012»";
- "Penso que ainda não encontramos a nossa própria assinatura musical. Precisamos ainda de fazer mais um ou dois álbuns para chegar lá";
- "As guitarras deviam ter ficado um pouco mais graves e deviamos ter incluído mais elementos orquestrais";
- "As ideias para este álbum tiveram origem, em grande parte, no filme «Hardware» do Richard Stanley, de 1991".
(Oyvind)
>>> Click on the picture to download the full interview

segunda-feira, 10 de maio de 2010

SVARTTHRON

«Kraujo Estetika»
(Inferna Profundus Records, 2010) [4.5/10]

Quem teve algum contacto prévio com os Svartthron deve associar mentalmente este nome ao estilo de black metal depressivo, atmosférico e a meio tempo que a banda imprimiu em “Bearer of the Crimson Flame” e nos dois registos que o precederam. Se for esse o caso do leitor, então prepare-se para uma surpresa pois quase tudo se alterou neste projecto lituano, e não foi para melhor. Para começar, o único músico responsável pela banda, Tomhet, optou aqui por explorar uma variedade de black metal mais veloz e primitiva, mas sem grandes resultados. Quase não há riffs memoráveis e tudo soa excessivamente vulgar e genérico. Salvo raras excepções, a composição é demasiado idiossincrática para deixar alguma marca duradoura, e nem a prestação de [k] dos Argharus, alegadamente o primeiro baterista humano a participar numa gravação dos Svartthron, é suficiente para evitar a derrapagem para um abismo de tédio. Mas o que arruína mesmo este disco é a interpretação vocal, desta vez confiada – lamentavelmente – a Levas dos compatriotas Andajas. É que tirando as poucas vezes em que as vozes se toleram, nomeadamente quando surgem sussurradas ou quase declamadas, em geral soam de tal forma estridentes e histéricas que não fazem mais do que nos deixar os nervos em franja. O que atrai neste álbum é mesmo o grafismo cuidado de todo o artwork, muito numa estética post-black, bem como a perspectiva niilista de todo o conceito lírico (pela primeira vez expresso no idioma nativo da banda) sobre o sangue. Mas isto, claro, nunca é o que mais interessa num disco.

in CLIP (Diário de Aveiro), 6 Maio 2010