sexta-feira, 22 de abril de 2011

HAEIRESIS

«Transparent Vibrant Shadows»
(Inferna Profundus/Neo:Torment/Frenteuropa Records, 2011) [8/10]

Projecto a solo com origem na Lituânia, propõe neste álbum de estreia um interessante concentrado de black metal que junta tendências convencionais a algum do melhor vanguardismo do estilo. No lado mais tradicional sobressaem as influências de Emperor e Mayhem, nas suas respectivas encarnações mais recentes. Depois há toda uma componente industrial e dark ambient com referências sónicas que apontam para nomes de relevo desses quadrantes, como Aborym e sobretudo The Axis of Perdition. Aliás, não será por acaso que o disco conta com a participação de Brooke Johnson, o mentor dos Axis, em metade dos temas. O carácter industrial deve-se essencialmente à excelente percussão caracteristicamente maquinal e ao registo distorcido de voz em jeito de andróide maléfico do multi-instrumentista S.B. que me faz recuar ao tempo dos nossos saudosos Thormenthor. A uma abordagem já familiar de black metal a banda adiciona algumas mais-valias tais como padrões rítmicos complexos, acordes desarmónicos e linhas melódicas abstractas – tudo isto sem comprometer a estrutura das canções – o que faz desta uma proposta exigente e com o seu quê de refrescante. Com os melhores momentos guardados para o fim do disco na forma de faixas como “Surreale” e “Emptyroom”, «Transparent Vibrant Shadows» congrega todos os elementos para retratar com sucesso o ambiente frio e fantasmagórico de um asilo em ruínas (bem ilustrado no artwork), constituindo ao mesmo tempo uma experiência compensadora para quem procura alternativas mais futuristas nas vertentes extremas do metal.

in Clip (Diário de Aveiro), 14 Abril 2011

quarta-feira, 13 de abril de 2011

THE PROJECT HATE MCMXCIX

«Bleeding the New Apocalypse (Cum Victriciis in Manibus Armis)» (Season of Mist, 2011) [8.5/10]


Há uma grande diferença entre este e os discos anteriores dos TPH e essa diferença chama-se Ruby Roque. A ex-vocalista dos portugueses Witchbreed, que agora faz parte do grupo sueco em apreço, é efectivamente a principal responsável pelo afastamento dos TPH dum paradigma vocal já gasto: o duelo, celebrizado em muito gothic/death, entre voz feminina angelical e growler cavernoso. É que, contrariamente ao tom ingénuo e frágil da anterior Jonna Enckell, a voz de Ruby molda-se segundo o estilo tradicional de vocalistas como Kate French (Chastain), com um registo poderoso e de grande dinâmica, que se impõem de forma autoritária mesmo na presença de um monstro como Jörgen Sandström. O facto de Ruby cantar quase sempre em notas altas e segundo linhas melódicas distintas, é um aspecto que pode dificultar a assimilação da mudança. No entanto, ao fim de meia dúzia de audições tudo parece encaixar na perfeição. Musicalmente este é mais um passo de sucesso no sentido do aperfeiçoamento do cocktail único que Lord K Philipson tem vindo a desenvolver desde 1998, e que congrega, em longos épicos de 9 a 13’, as sonoridades extremas do death metal com passagens electrónicas e industriais, numa simbiose quase perfeita de brutalidade e beleza maquinal. Enriquecido uma vez mais pelos fantásticos solos de Mike Wead (King Diamond), pela voz de Christian Alvestam e, desta vez, pelo mítico Leif Edling (Candlemass), «Bleeding...» só peca pelo tremendo deja vu causado pela peça de manual didáctico que é o riff de abertura. Contudo é uma falsa partida que fica mais do que compensada pelo que vem a seguir.

in Clip (Diário de Aveiro), 24 Março 2011

CRUSHING SUN

«Tao» (Major Label Industries, 2010) [8/10]
Esqueçam o que ouviram em 2008 no split com os EAK, pois estes são os novos Crushing Sun. Em lugar de rajadas disparadas em todas as direcções, o que o colectivo apresenta agora é um metal moderno e vigoroso, mais contido na agressão, mas que não prescinde da sua dose letal de riffs death. Mais importante é sem dúvida a nova abertura a um espectro de influências mais alargado – que não compromete a coerência do todo – bem como a admirável progressão na qualidade das composições. Uma das boas surpresas nacionais do ano.

in Clip (Diário de Aveiro), 10 Março 2011

MORBID CARNAGE

«Night Assassins» (Pulverised Records, 2010) [6.5/10]
Apesar de não estarmos certamente perante uns Evile ou uns Pitch Black, e de já não haver pachorra para esta imagem estafada de machões violentos e acéfalos, há que reconhecer nestes húngaros alguma capacidade para reavivar o entusiasmo pelo velho thrash metal. Sem surpresas, «Night Assassins» é uma torneira aberta de malhas sujas e rasgadas, energicamente articuladas por uma maquinaria infernal bem oleada, que nos transporta até às glórias dos 80s protagonizadas por lendas como Slayer e Kreator. Uma estreia decente, mas só para fanáticos do género.

in Clip (Diário de Aveiro), 10 Março 2011