terça-feira, 22 de dezembro de 2009

SECRETS OF THE MOON

«Privilegivm»
(Lupus Lounge, 2009) [9.5/10]

Depois do período conturbado que atravessaram, primeiro motivado pela saída inesperada de Daevas, membro fundador, no início de 2008, e depois pelo abandono do guitarrista A.D., que tão significativamente contribuiu para a criação do último álbum, poucos apostariam num regresso em força dos Secrets of the Moon. Contudo, comprovando a máxima “o que não me mata, torna-me mais forte”, a banda aí está no seu melhor, com um disco que, mais do que brilhante, acrescenta algo de novo ao edifício sónico construído até aqui. Neste quarto registo de originais, a formação alemã, que inclui agora a baixista LSK (que passou pelos nossos Corpus Christii), modera de forma significativa a agressividade explícita das tiradas rápidas do passado, para se concentrar em temas longos que se desenvolvem lenta e gradualmente no seio de atmosferas sinistras, e em riffs cuja imponência se faz sentir até ao decair completo de cada nota. Como em «Antithesis», a composição conserva o seu carácter vanguardista, mas aqui afasta-se ainda mais dos chavões tradicionais do black metal, bem como das subtis referências ao estilo Satyricon patentes nesse disco de 2006. Versos inteligentes como sempre, com alusões veladas a temas da mitologia cristã, são cuspidos em tom inflamado por S. Golden no registo diabólico que lhe é característico, ou declamados convictamente como se de uma oração blasfema se tratasse. Com uma sonoridade assombrosa e um discurso carregado de intenção, «Privilegivm» ressoa como uma proclamação exaltada de uma nova era de escuridão. A luz no fundo do túnel acabou de se extinguir e a esperança foi a primeira a morrer.

in CLIP (Diário de Aveiro), 17 Dezembro 2009

domingo, 13 de dezembro de 2009

THEE ORAKLE

«Metaphortime»
(Recital Records, 2009) [8.5/10]

Provenientes de Vila Real, os Thee Orakle apresentam-se com uma proposta surpreendente, ao nível do melhor metal progressivo de contornos extremos jamais produzido em território nacional. A combinação do vozeirão negro e desesperado de Pedro Silva com o registo luminoso e seguro de Micaela Cardoso - bem ao estilo da ex-The Gathering Anneke van Giersbergen -, a par de uma sonoridade, ao mesmo tempo poderosa e rica em melodia e atmosfera, conferem ao colectivo o mesmo tipo de apelo de outras formações gothic/death. Contudo, esta banda parece ir buscar mais influências prog do que é habitual neste formato, apresentando aqui um conjunto de temas elaborados que integram na perfeição momentos de grande intensidade com longas passagens tranquilas e animadoras, incluindo refrães catchy e solos excelentes que, no seu conjunto, flúem como peças coesas e harmoniosas. Com uma execução irrepreensível e um trabalho de bateria especialmente criativo, «Metaphortime» (um conceptual que tem na alquimia o seu tema de fundo) é um daqueles discos em que é difícil destacar canções em particular porque todas parecem ter sido objecto do mesmo trabalho meticuloso de concepção, do ponto de vista lírico e instrumental, apresentando assim, cada uma, os seus atractivos particulares. A produção de Daniel Cardoso desempenha aqui um papel fundamental no resultado final obtido, e a única coisa que não faz jus à qualidade da música é mesmo a capa do CD. Tirando isso, este é sem dúvida um dos melhores álbuns de estreia na história recente do metal luso.

in CLIP (Diário de Aveiro), 10 Dezembro 2009

domingo, 6 de dezembro de 2009

Edição de Dezembro 15

Na 2ª hora:
- CLASSICS V -

Clássicos de sempre dos The Beatles, Ozzy Osbourne, Iron Maiden, Metallica, Paradise Lost e Cynic entre outras, escolhidos e apresentados pelos nossos entrevistados:
Paul Masvidal (CYNIC); Andrew Craighan (MY DYING BRIDE); Johan Söderberg (AMON AMARTH); Ravn (1349); Bruno Fernandes (THE FIRSTBORN) e Proscriptor McGovern (ABSU), entre outros.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

REVOCATION

«Existence is Futile»
(Relapse Records, 2009) [7.5/10]

No ano passado estriaram-se com um álbum espantoso que lhes valeu o epíteto de próxima ‘big thing’ na área do thrash/death metal técnico e a ligação à editora onde se encontram agora ancorados. O segundo longa-duração, lançado apenas dezasseis meses depois, confirma a excelência do trio de Boston destacando em particular a destreza do guitarrista David Davidson que nos volta a brindar com leads de atordoar, acenando influências que vão desde Michael Amott a Devin Townsend, passando por virtuosos clássicos como Marty Friedman. Mas para além deste lado técnico proeminente (que é sempre um valor acrescentado neste tipo de música) e do talento que o colectivo evidencia na forma como integra uma série de apontamentos refrescantes que vão beber a tudo o que é menos convencional na música extrema, a sonoridade e o estilo base adoptados neste novo trabalho – quase sempre veloz e farto em blast beats – apresenta muitos dos atributos do death metal melódico e do furacão deathcore que caracteriza bandas como As I Lay Dying e Darkest Hour. A aproximação a esta corrente está, aliás, bem patente nos registos vocais de Davidson e do baixista Anthony Buda, e francamente soa um pouco estranha nos Revocation se considerarmos que esteve quase totalmente ausente do disco anterior e se trata, no fim de contas, de algo já muito mastigado. Apesar deste ponto a desfavor e da qualidade inconstante dos doze temas, «Existence is Futile» inclui o bastante em termos de momentos de génio para fazer corar de inveja muitas bandas supostamente com “créditos firmados”.

in CLIP (Diário de Aveiro), 19 Novembro 2009

domingo, 8 de novembro de 2009

Edição de Novembro 10, 2009

Na 2ª Hora

Entrevista com David Davidson, guitarrista e vocalista dos norte-americanos REVOCATION, a propósito do novo álbum «Existence is Futile».

- "Ao contrário do disco anterior, neste novo álbum incluímos alguns temas curtos e expandimos um pouco mais o nosso lado progressivo e as nossas influências";
- "Sim, o Marty Friedman é uma das minhas grandes influências. Outros guitarristas importantes para mim como músico são o Dimebag Darrel, o Zakk Wylde e o Daniel Mongrain (dos Martyr);
- "Em Abril de 2010 iremos tocar no Neurotic Deathfest, na Holanda, e por essa altura é provável que façamos mais algumas datas na Europa. Mantenham-se pois sintonizados!"
(David)
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quinta-feira, 5 de novembro de 2009

HO-CHI-MINH

«It Has Begun»
(Raging Planet, 2009) [6.5/10]

O que seduz desde logo neste álbum de estreia do colectivo de Beja é a forma como aliam excertos electrónicos criativos a uma base sónica feita de construções pesadonas e simples com o seu quê de industrial, que se associam ora ao metalcore ora ao nu-metal. Eficaz e directa, a música oscila entre momentos de pura agressão e refrães melódicos cujo apelo imediato se deve em grande medida ao vocalista Skatro e ao notável registo limpo que imprime nestas ocasiões, as quais surgem intercaladas entre passagens de expressão vocal mais típica do hardcore. A excelente produção de Eddy Apolónia não fica a dever nada aos trabalhos nacionais gravados com os produtores da berra, e confere ao disco um som vivido que realça bem o poder esmagador dos riffs. Fico com alguma pena que a banda não tenha gravado todos os quatro temas da demo de 2004 (o disco inclui apenas dois), dado que estes não iriam certamente destoar, muito pelo contrário. O contraste acima referido entre os elementos sintéticos e a força bruta das guitarras funciona de facto tão bem que dá para lamentar o facto de não terem levado esta simbiose um pouco mais longe, por exemplo fazendo sobressair os apontamentos electrónicos mais no meio dos temas e não apenas quase só no início. Mesmo assim «It Has Begun» é um trabalho sólido e electrizante que não só promete bons momentos de headbanging, como não deixa dúvidas quanto ao talento deste quinteto alentejano.

in CLIP (Diário de Aveiro), 5 Novembro 2009

domingo, 11 de outubro de 2009

Edição de Outubro 13, 2009

Na 2ª Hora

Entrevista com Skatro (João Ramos), vocalista dos portugueses HO-CHI-MINH, a propósito do álbum de estreia «It Has Begun».

- "Para nós este é um álbum perfeito no sentido em que foi feito com o produtor que escolhemos, da maneira como quisemos, tendo o resultado saído até melhor do que esperávamos";
- "... sem dúvida aquilo que mais nos distingue de tudo o resto é a componente electrónica";
- "Simpatizamos desde logo com o nome Ho-Chi-Minh porque soa bem e é diferente de tudo o resto. É o nome de um líder revolucionário mas também se traduz por "aquele que ilumina, aquele que liberta", significado que acabou por se tornar a razão principal para mantermos este nome."
(Skatro)
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sexta-feira, 9 de outubro de 2009

DRUDKH

«Microcosmos»
(Season of Mist, 2009) [8.5/10]

Fizeram-se notar desde o primeiro disco, «Forgotten Legends», em 2003, e são actualmente um dos fenómenos mais recentes a emergir da obscuridade do underground, impulsionados apenas pela modesta promoção de uma pequena editora (a banda não concede entrevistas nem dá concertos) e pelo fascínio que exercem numa horda cada vez mais numerosa e entusiástica de fãs. O que fazem é nitidamente black metal, mas segundo uma versão atmosférica e épica que transporta muito da alma do seu país de origem, a Ucrânia. Este sétimo disco de originais alinha-se na mesma direcção do álbum anterior, «Estrangement», baseando-se em andamentos predominantemente moderados a lentos, por vezes a roçar o doomy, longas passagens instrumentais com fraseados que se repetem como mantras gerando por vezes uma certa tensão, e uma ambiência que sugere algo de contemplativo. Mas há também diferenças notórias e bem-vindas em relação ao disco de 2007. Em «Microcosmos» a música aparenta mais elementos progressivos e é em geral mais refinada. A malha de riffs tem nuances folk mais vincadas (não se trata, no entanto, de folk metal) que fazem lembrar por vezes os irlandeses Primordial. As secções calmas são mais profundas e expansivas e os solos de guitarra são os mais inspirados de sempre. Em suma, qualidades que fazem deste álbum uma experiência sónica ímpar, confirmando ao mesmo tempo as boas razões que tínhamos para considerar este como um dos discos mais aguardados de 2009.

in CLIP (Diário de Aveiro), 8 Outubro 2009

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

AHAB

«The Divinity of Oceans»
(Napalm Records, 2009) [8/10]

Enquanto a maioria dos grupos se esquiva de rótulos que os associem a géneros ou subgéneros musicais, os Ahab descrevem-se orgulhosamente como uma banda de ‘nautik funeral doom metal’. ‘Nautik’ por causa do fascínio que as sagas marítimas sempre exerceram sobre a banda, desde a sua formação, em 2004, que motivou a criação de um álbum de estreia baseado na obra “Moby Dick”, o clássico da literatura de Herman Melville, sendo este segundo disco mais um conceptual inspirado desta vez em “In the heart of the sea”, o livro de Nathaniel Philbrick que relata a tragédia do baleeiro Essex, famoso desastre marítimo do Sec. XIX que culminou em actos desesperados de canibalismo no seio da tripulação sobrevivente. Com uma sonoridade expandida e renovada (que torna, agora, a qualificação de ‘funeral’ um tanto forçada), o novo álbum inclui desta vez vários segmentos tranquilos, atravessados por linhas melódicas, etéreas e magnificas de guitarra, que surgem entre as partes mais impiedosas, resultando num trabalho mais equilibrado. Outro aspecto inédito é o registo limpo de Daniel Droste, um canto singular em timbre grave que ele alterna com o seu grunhido cavernoso, e que prevalece como um dos aspectos mais atractivos do disco. Marcado por influências que vão desde o doom clássico dos Solitude Aeturnus ao estilo mais arrastado e atmosférico dos Morgion, «The Divinity of Oceans» soa tão épico e trágico com o próprio mar e é o primeiro grande trabalho da formação alemã.

in CLIP (Diário de Aveiro), 17 Setembro 2009

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Edição de Setembro 22, 2009

Na 2ª Hora
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Entrevista com Daniel Hakansson, guitarrista e vocalista dos suecos DIABLO SWING ORCHESTRA, a propósito do novo álbum «Sing-Along Songs for the Damned & Delirious».
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- "Quando fizémos o primeiro álbum não conheciamos ainda nenhuma banda de metal com elementos sinfónicos e voz feminina. Por isso estavámos convencidos que eramos uma banda muito original!";
- "Como DSO estamos receptivos a todos os tipos de música, especialmente à música folk de todo o mundo que representa para nós uma fonte inesgotável de inspiração";
- "Gostamos de música pesada assim como de música dançavel, por isso vamos continuar a misturar as duas";
- "Somos o tipo de banda que ou se ama ou se detesta. Não há muito espaço para meios termos".
(Daniel)
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terça-feira, 15 de setembro de 2009

OLD MAN’S CHILD

«Slaves of the World»
(Century Media, 2009) [9/10]

A postura recatada e pouco extravagante encobre um pequeno génio na fina arte de criar black metal, e o novo álbum dos Old Man’s Child, para todos os efeitos práticos o seu projecto a solo, é mais um testemunho dessa mestria. Falamos, é claro, de Galder e deste novo disco, um trabalho pautado por uma composição de grande nível, recheado de bons riffs, e genericamente mais acelerado e eficaz do que o anterior «Vermin». Mantendo a tradição de contratar apenas entre a nata dos bateristas de metal para as sessões de gravação, o músico norueguês, que executa aqui todos os restantes instrumentos, colocou desta vez atrás do kit Peter Wildoer, homem dos Darkane e Pestilence, que brilha em cada mudança repentina de andamento e nas varias texturas rítmicas com que enriquece o disco. Com Galder envolvido nos Dimmu Borgir há quase dez anos era inevitável que, mais tarde ou mais cedo, algumas influências transbordassem para os OMC, sendo isso exactamente o que acontece, pela primeira vez de maneira mais evidente, neste sétimo de originais. No entanto também não é nada para alarmar pois o álbum mantém, em todos os aspectos, a marca distinta da banda incluindo a voz venenosa do seu mentor. Com um som ao mesmo tempo possante e polido, trabalhado uma vez mais nos lendários estúdios Fredman por Fredrik Nordström, «Slaves of the World» é talvez um dos registos mais conseguidos da banda de Galder, que assim reafirma o seu estatuto como um nome de referência no panorama black metal de cariz mais melódico.

in CLIP (Diário de Aveiro), 10 Setembro 2009

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

RAZOR OF OCCAM

«Homage to Martyrs»
(Metal Blade, 2009) [8/10]

Na filosofia, a navalha de Occam refere-se ao princípio que permite purgar um modelo da realidade de postulados infundados desprovidos de qualquer poder explicativo. No disco em apreço, todo ele centrado na temática do conflito entre ciência e religião, e fortemente inspirado na obra dos grandes intelectuais do chamado Novo Ateísmo: Richard Dawkins, Christopher Hitchens, Sam Harris, entre outros, o postulado a extirpar é claramente toda a noção de entidades sobrenaturais desnecessárias - deuses. Em contraste com este background lírico algo rebuscado, a música, uma mistura arrasadora de thrash old-school e black metal, é bem mais padronizada, mas soma pontos pela vitalidade que a banda lhe injecta à conta de riffs memoráveis, leads de guitarra rasgados e torrentes brutais de blast-beats debitados com uma convicção assustadora. O som dos estúdios Necromorbus deixa transparecer todos os detalhes instrumentais mas ostenta ao mesmo tempo um tipo de sujidade e aspereza que traz à memória nomes como Angel Corpse, os lendários Order from Chaos e até Absu. Embora o colectivo tenha origem na Austrália (reside actualmente no Reino Unido) e inclua dois membros dos Destroyer 666, este álbum de estreia mostra que os Razor of Occam estão empenhados numa abordagem comparativamente mais frenética e destruidora. Com um poder de impacto que não chega ao nível de um «Reign in Blood» como sugerido exageradamente pela editora, «Homage to Martyrs» constitui ainda assim a melhor meia hora de metal que ouvi nos últimos meses.

in CLIP (Diário de Aveiro), 10 Setembro 2009

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Edição de Setembro 8, 2009

Na 2ª Hora
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Entrevista com Cornelius Althammer, baterista dos alemães AHAB, a propósito do novo álbum «The Divinity of Oceans».
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- "Penso que desta vez fizémos mesmo Arte. Em comparação, os nossos primeiros trabalhos foram apenas tentativas de por em prática algumas ideias brilhantes";
- "Inicialmente, quando formamos a banda, a intenção era criar algo na linha de Nile, mas em 'slow-motion'";
- "Resolvemos adoptar o mar como tema genérico porque é algo que nos inspira mistério, parecendo pois adequado ao tipo de música lenta e negra que fazemos".
(Cornelius)
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segunda-feira, 3 de agosto de 2009

1349

«Revelations of the Black Flame»
(Candlelight, 2009) [7/10]

Se não soubesse, não diria que é o novo álbum dos 1349. É que, até ao disco anterior, lançado em 2004, a banda norueguesa era conhecida por produzir um black metal demolidor, dominado inteiramente por catadupas de blast-beats capazes de provocar a combustão espontânea de meia dúzia de igrejas, enveredando agora, inesperadamente, por uma mudança sonora tão radical que os deixa praticamente irreconhecíveis. Surpreendam-se pois porque este quarto álbum é feito sobretudo de elementos ambientais com alguns toques industriais, e onde o pouquíssimo black surge profundamente diluído numa atmosfera minimalista e sombria (com influências marcadas de Celtic Frost) que é mais característica do doom. Para ser mais preciso, apenas dois dos nove temas tem algo que ver com o passado da banda. Por acaso estes até figuram provavelmente entre as melhores músicas compostas pelo grupo, o problema é que as passagens ambientais, para além de numerosas e longas, resultam ou inconsequentes, ou mesmo maçadoras numa boa parte dos casos. A surpreendente interpretação do original dos Pink Floyd “Set the controls for the heart of the sun”, acredite-se ou não, assenta como uma luva no espírito do álbum. Embora não se equipare aos trabalhos de black metal moderno lançados recentemente, «Revelations...» marca uma viragem experimental bem-vinda nos 1349, que não só os afasta de um estilo, convenhamos, desgastado, como poderá ser o ponto de partida para voos criativos bem mais interessantes.

in CLIP (Diário de Aveiro), 23 Julho 2009

sexta-feira, 17 de julho de 2009

ULCERATE

«Everything is Fire»
(Candlelight, 2009) [8.5/10]

O primeiro contacto suscita associações imediatas com o som de bandas como Morbid Angel ou Immolation. Uma das semelhanças mais evidentes advém da poderosíssima secção rítmica de sonoridade densa e esmagadora, que evoca constantemente imagens titânicas de mega tonelagem ameaçadora em movimento desenfreado. Os riffs dissonantes e a composição muito complexa, caótica por vezes, que só ocasionalmente deixa perceber padrões estruturais recorrentes, a par de um vocalista com um registo cavernoso muito próximo do de Ross Dolan, constituem outras similitudes. Mas há também aspectos em que o death metal deste colectivo Neozelandês os demarca das bandas supra. Um dos mais salientes é o recurso a segmentos calmos, vagarosos e desolados, que trazem à memória os Neurosis, e que surgem em alguns temas com um efeito notável. Mais importante ainda é o trabalho irrequieto de bateria de Jamie Saint Merat que nunca se mantém no mesmo ritmo por mais que alguns segundos, e muda de velocidade com uma subtileza jamais vista - uma exibição de cortar a respiração! Com um engenhoso duo de guitarras que torcem, contorcem e voltam a torcer cada acorde, «Everything is fire» deixa a sensação de uma experiência exaustiva e de intensidade monstruosa, embora possa soar - enganadoramente - pouco variado numa primeira abordagem, requerendo pois uma audição atenta para produzir dividendos compensadores. Um nível de volume generoso é imprescindível para o efeito.

in CLIP (Diário de Aveiro), 16 Julho 2009

sexta-feira, 10 de julho de 2009

GNOSTIC

«Engineering the Rule»
(Season of Mist, 2009) [7/10]

Incluem três músicos dos lendários Atheist, entre os quais o genial Steve Flynn, e movem-se muito perto do estilo dessa mesma banda, mais até do que seria razoável esperar. Este álbum de estreia é assim uma proposta de death metal numa abordagem muito técnica e plena de mostras de virtuosismo, em que as semelhanças com Atheist se denunciam não só pela assinatura distinta e criativa da bateria de Flynn mas também por via dos apontamentos de guitarra e baixo, e do estilo característico de composição invulgarmente sofisticado. É provável que esta parecença, um tanto exagerada, se possa dever ao facto dos Gnostic terem sido formados no início de 2005, numa altura em que o reagrupamento dos Atheist não era ainda uma realidade. Mas há também alguns aspectos divergentes a salientar, como é o caso da sonoridade mais pujante e as descargas vocais furiosas de expressão hardcore. A composição é, em geral, menos estruturada e mais confusa a ponto de resultar em temas que deixam para trás pouco de memorável. Maioritariamente constituído por temas gravados em demo-tapes há três e quatro anos atrás, «Engineering the Rule» (título que sugere uma reformulação de regras musicais) é um disco abundante em detalhes instrumentais cuja descoberta exige uma audição atenta, algo que fará com certeza as delícias dos incondicionais do metal mais elaborado. Esperemos é que o álbum de regresso dos Atheist, previsto para o final do ano, não transforme rapidamente os Gnostic num projecto redundante.

in CLIP (Diário de Aveiro), 9 Julho 2009

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Edição de Julho 7, 2009

Na 2ª Hora

Entrevista com Ravn, vocalista dos noruegueses 1349, a propósito do novo álbum «Revelations of the Black Flame».

- "Quando formei a banda, em 1997, tive desde logo a ideia de fazer quatro álbuns. O quarto (ou seja «Revelations...») iria estabelecer um novo standard no black metal";
- Penso que a identidade original dos 1349 continua bem presente neste disco, com a diferença que, desta vez, optamos antes por colocar em primeiro plano toda a negritude que esteve sempre subjacente à agressão extrema dos discos anteriores";
- "Este é um disco de transição. Um álbum de passagem para um novo estádio, para além do inferno. É no contexto deste novo "lugar" que iremos desenvolver o próximo disco".
(Ravn)
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sexta-feira, 26 de junho de 2009

OBSCURA

«Cosmogenesis»
(Relapse Records, 2009) [8.5/10]

Quem aprecia metal técnico, daquele tipo em que o virtuosismo gritante dos músicos nos deixa de queixo caído, abananados, a perguntarmos como é possível tocar assim, não deve perder este disco por nada. Embora venha rotulado como death metal a música aqui presente afasta-se sobremaneira dos lugares comuns do género, incorporando elementos neoclássicos nas estruturas de base assim como nos magníficos solos que transbordam de influências de ícones da guitarra, como Yngwie Malmsteen entre outros. Frenético e demolidor mas com interregnos amenos a fazer o contraponto, «Cosmogenesis» é um trabalho rico em momentos brilhantes onde a composição, apesar de intrincada, resulta em temas que funcionam como um todo coerente. É impossível não detectar referências sonoras a bandas como Death e Cynic, esta última evidente por causa da voz processada que Steffen Kumerer usa ocasionalmente, em adição a registos vocais mais standard do death e do black metal. Outro nome incontornável é Necrophagist, não só pelo estilo tecnicista análogo (embora os Obscura sejam mais melódicos e prescindam da componente grind destes) mas também pelo facto da formação alemã incluir dois membros - autênticos prodígios nos respectivos instrumentos - do colectivo que gravou «Epitaph». E como se tanto talento não bastasse a banda conta ainda com Jeroen Thesseling, o baixista que integrou os Pestilence da fase «Spheres», cujo fretless realça pinceladas de jazz de fusão, sendo um elemento fundamental na malha sonora registada no disco. Sem dúvida, um grande trabalho a assinalar em 2009.

in CLIP (Diário de Aveiro), 25 Junho 2009

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Edição de Junho 16, 2009

Na 2ª Hora

Entrevista com Steve Flynn, baterista dos norte-americanos GNOSTIC (e Atheist) a propósito do álbum «Engineering the Rule».

- "De facto os Gnostic estão, musicalmente, próximos dos Atheist e isso deve-se, em parte, ao meu contributo pessoal nas duas bandas como executante e como arranjador";
- "Queria que as pessoas avaliassem a nossa música pelo mérito que ela tem, mas reconheço que isso vai ser difícil, particularmente para os fãs de Atheist";
- "Tocar este tipo de música é sempre um desafio; é tão excitante como resolver um puzzle complexo. Nunca é aborrecido. Uma banda envolve sempre coisas chatas e algumas frustrações, portanto é bom que haja algo que se faça com prazer e de forma apaixonada!";
- "Comecei a tocar bateria por causa dos Rush. Fiquei fascinado com o Neil Peart e sempre quis recriar a sua forma de tocar".
(Steve Flynn)
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sexta-feira, 5 de junho de 2009

BILOCATE

«Sudden Death Syndrome»
(Daxar Music, 2008) [8/10]

São um dos mais recentes fenómenos a emergir do Médio Oriente, mais concretamente da Jordânia, onde a música extrema ainda é vista como uma séria ameaça para os ideais religiosos. O trabalho do colectivo chega até nós através deste brilhante registo que combina doom e death metal de uma maneira que, por vezes, sugere Orphaned Land e Novembers Doom. Nas passagens mais calmas é também reminiscente da marca progressiva dos Opeth, aspecto que surge reforçado inevitavelmente pela co-produção e mistura de Jens Bogren. Os instrumentos tradicionais (e.g. oud e tabla) e os padrões rítmicos típicos das arábias, abraçados por tantas bandas provenientes desta região do globo, são aqui um elemento algo secundário, pelo que a música soa quase sempre muito ocidental. O ambicioso “Blooded forest” destaca-se como o tema mais representativo de todo o álbum. Com riffs excelentes a meio-tempo, segmentos atmosféricos, ora dramáticos ora grandiosos, belos excertos em piano e toda uma série de detalhes atractivos de composição, resultam num épico que consegue a proeza de prender a atenção durante todos os dezassete minutos da sua duração. Fartos das proibições impostas pelo regime teocrata do seu país de origem, as quais não permitiram mais do que uns míseros quatro concertos num espaço de seis anos, os Bilocate mudaram-se recentemente para o emirado do Dubai estando agora mais livres para, finalmente, dar largas a esta forma de expressão que não conhece fronteiras geográficas, culturais ou religiosas.

in CLIP (Diário de Aveiro), 11 Junho 2009

sábado, 23 de maio de 2009

Edição de Maio 26, 2009

Na 2ª Hora

Entrevista com Steffen Kummerer, vocalista e guitarrista dos germânicos OBSCURA a propósito do mais recente álbum «Cosmogenesis».

- "Na relação com os outros membros da banda sou um ditador democrático... :-)";
- "Os Death e os Cynic são bandas muito técnicas mas a sua música tem sempre uma estrutura fluída que a torna atractiva e relativamente acessível - foi isso mesmo que tentamos fazer neste álbum";
- "Ser comparado com os Cynic não é assim tão mau... Nós até roubamos 10seg de um solo do "Veil of Maya" (do álbum «Focus»). Se encontrares esse excerto no nosso disco pago-te um gelado... :-)"
(Steffen Kummerer)
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quarta-feira, 20 de maio de 2009

BLUT AUS NORD

«Memoria Vetusta II: Dialogue with the Stars»
(Candlelight, 2009) [9/10]

Apesar de uma certa atitude ‘low profile’ que passa por não tocar ao vivo, manter o anonimato dos músicos e conceder o mínimo número possível de entrevistas, os Blut Aus Nord são cada vez mais um nome incontornável no que toca à inovação de sonoridades na área do black metal. Neste que é, supostamente, a segunda parte de um trabalho homónimo publicado em 1996 (com o qual tem muito pouco em comum, diga-se), o misterioso colectivo francês volta a orientar a sua visão sónica muito pessoal numa direcção mais agressiva (do que em «Odinist») favorecendo também composições mais longas e dinâmicas. Os nove temas são ricos em extensos segmentos instrumentais onde sobressai o característico timbre pouco distorcido mas sempre desolado das guitarras, que se faz ouvir nas melodias místicas dos leads e nas dissonâncias sombrias das transições. Como sempre o duplo baixo é proeminente e a bateria é simples e algo industrializada, mas é assim que resulta eficaz mesmo nas sequências rítmicas mais elaboradas. O registo abrasivo de Vindsval ecoa sempre abafado e de forma quase indistinguível dos restantes instrumentos, e o trabalho de teclados no background é essencial para amornar a atmosfera gélida e sinistra da música. «Memoria Vetusta II» é uma experiência intensa que remete para lá da esfera da consciência; para uma dimensão onírica, tenebrosa e bizarra, mas simultaneamente de uma beleza transcendente.

in CLIP (Diário de Aveiro), 21 Maio 2009

domingo, 10 de maio de 2009

ANOMALLY

«Once in Hell…»
(edição de autor, 2008) [6.5/10]

Oriundos dos Açores os Anomally apresentam um death metal de atmosfera intensamente gótica com teclados bem integrados e uma dose generosa de vozes limpas. O colectivo pode ter apenas três ou quatro anos de existência mas os músicos não são seguramente principiantes - pelo menos é essa a impressão que fica depois de uma audição atenta deste álbum de estreia. Todas as faixas apresentam, de forma consistente, o mínimo em termos de qualidade de composição e diversidade para espicaçarem o interesse, incluindo até pelo meio alguns refrões fortes e apelativos, mas que nunca tornam as canções excessivamente fáceis. Tudo soa no lugar certo, com uma execução particularmente convincente da parte das guitarras e dos teclados e alguns embelezamentos aqui e ali na forma de samples que contextualizam e dão um toque mais dramático a certas passagens. A voz principal, variando entre o gutural profundo e um estilo mais black metal, sobressai sempre como o elemento sonoro mais agressivo. Apesar de ambos estes registos vocais reforçarem positivamente a natureza sombria da música, há alturas, no entanto, em que parecem baralhar-se mutuamente. Embora a banda se movimente por terreno já palmilhado e a modesta produção do disco não faça verdadeira justiça às qualidades intrínsecas da música, «Once in Hell...» deixa a clara sensação de uma feroz declaração de intenções. Os Anomally não vão certamente ficar por aqui.

in CLIP (Diário de Aveiro), 7 Maio 2009

sábado, 25 de abril de 2009

Edição de Abril 28, 2009

Especial SWR Barroselas Metalfest

Edição dedicada ao maior festival português de música extrema que vai decorrer nos dias 30 de Abril a 2 de Maio em Barroselas, Viana do Castelo, e que inclui nesta 12ª edição nomes como SODOM, THE HAUNTED, ABSU, AKERCOCKE, ESOTERIC, THE FIRSTBORN e CORPUS CHRISTII, entre muitos outros.
-- Na 2ª hora: Entrevista com Filipe Castro, membro da organização.
http://www.swr-fest.com/

sexta-feira, 24 de abril de 2009

ABSU

«Absu»
(Candlelight, 2009) [9.5/10]

Após a perda de dois membros da formação original, incluindo o principal compositor, e de uma crise interna que se viria a saldar em oito anos de paragem sem concertos nem gravações, poucos esperariam que os Absu regressassem com a pujança criativa de antigamente, e muito menos com o melhor álbum de sempre. Partindo da fórmula incendiária de thrash técnico com contornos de black metal que caracterizou «Tara», o novo álbum vê a banda Texana evoluir no sentido de uma composição mais diversificada e dinâmica, com algumas subtilezas psicadélicas, padrões rítmicos invulgares e uma miríade de detalhes atractivos que fazem a diferença no meio da explosão de riffs debitados ferozmente a toda a velocidade. O trabalho percussivo de Proscriptor McGovern é ao mesmo tempo fenomenal e devastador enquanto a sua voz, pontuada em quase-sincronismo com a bateria e sempre perfeitamente engrenada nas estruturas da música, impregna os encantamentos e imprecações que expele em nome de deidades Sumérias, de uma malignidade mais virulenta do que nunca. Gravado com a participação de uma série de ilustres convidados entre os quais se contam Rune Eriksen dos Ava Inferi e Bruno Fernandes dos The Firstborn, e munido de uma fantástica capa uma vez mais da autoria de Kris Verwimp, «Absu» é, sobre todos os pontos de vista, a maior realização até hoje do colectivo norte-americano e um dos primeiros sérios candidatos a álbum do ano.

in CLIP (Diário de Aveiro), 23 Abril 2009

ABSU - O regresso do clã de Cythraul

Magia incendiária em Barroselas no dia 1 de Maio

Depois de uma longa paragem de oito anos os mestres do Black Metal mitológico estão finalmente de regresso. Revitalizados por uma nova formação e com o melhor álbum de sempre – o homónimo «Absu» – ainda a fervilhar de reacções entusiásticas, a banda norte-americana promete protagonizar o momento de maior interesse do 2º dia do SWR Barroselas Metalfest. O líder Proscriptor McGovern falou ao CLIP/DIÁRIO DE AVEIRO sobre o novo disco e a nova encarnação dos Absu.

Após o abandono de dois membros da formação original poucos esperariam que os Absu regressassem com um álbum desta qualidade. Como é que isso foi possível?
Sim, compreendo. Foi exactamente para não comprometermos padrões de qualidade que resolvemos parar durante todos estes anos. Não foi fácil encontrar substitutos à altura de músicos notáveis como Shaftiel e Equitant que fizeram a história dos Absu. No início estava um pouco céptico em relação à forma como os media e o público iriam receber o novo álbum, primeiro por causa do novo line-up, e segundo porque está longe de ser uma réplica do «Tara». No entanto parece que as reacções excederam as minhas melhores expectativas.

O novo álbum parece ser mais variado e, ao mesmo tempo, mais complexo do que o «Tara». O que achas?
De facto é. O «Tara» é provavelmente o nosso álbum mais neurótico e agressivo de sempre. O «Absu» reflecte uma evolução substancial no domínio da composição e é por isso mais controlado e coeso. Considero estes dois últimos álbuns, a par do nosso disco de estreia, «Barathrum V.I.T.R.I.O.L.», como os meus discos favoritos dos Absu.

Depois deste longo período de ausência, sentes-te novamente motivado para continuar a gravar e a tocar ao vivo com a mesma regularidade que antes?
Sem dúvida. Já estou nos Absu há quase vinte anos e penso que estamos agora a iniciar uma nova fase; uma nova era de Metal Oculto e Mitológico que é para nós profundamente estimulante. Temos uma agenda de concertos já bastante preenchida para 2009 e início de 2010, portanto contem com mais actividade do que nunca da parte dos Absu. Para além disso assinamos um bom contrato com a Candlelight Records e estamos já a trabalhar em material para um novo álbum. Preparem-se para algo devastadoramente fresco!

O que nos podes adiantar sobre o vosso concerto no Barroselas Metalfest?
Será uma oportunidade para apresentarmos esta nova formação da banda e, claro, tocarmos uma mão cheia de temas do novo álbum. Especialmente para os fãs mais antigos preparamos um set que inclui também muitos temas dos discos mais antigos, cerca de duas a três canções de cada álbum. O nosso reportório é bastante vasto em termos de dinâmica e intensidade, pelo que temos tudo para brindar os presentes com um bom espectáculo.

in CLIP (Diário de Aveiro), 23 Abril 2009



sexta-feira, 17 de abril de 2009

MY DYING BRIDE

«The Lies I Sire»
(Peaceville, 2009) [8/10]

Conhecidos por transformar como ninguém os recantos mais sombrios das emoções humanas em peças únicas de música e poesia com tanto de sublime como de avassalador, os My Dying Bride estão de regresso com o disco que melhor resume, em termos estilísticos, tudo o que o colectivo britânico produziu nos últimos dez anos de actividade - desde o gothic/doom (aqui um pouco mais radio friendly) até às ocasionais tiradas death/black. Contudo o aspecto que mais sobressai é sem dúvida a reintegração do violino, cuja sonoridade confere a este décimo álbum um carácter que é por um lado vintage e por outro moderno em virtude do estilo de Katie Stone, a recém-chegada violinista, ser bem diferente do de Martin Powell. A utilização de voz de apoio em alguns temas e o facto de Aaron Stainthorpe se aventurar pontualmente em interpretações invulgares (e.g. em tons mais altos) são outros dos aspectos inéditos e atractivos deste novo disco. Todavia nem todas as ideias apresentadas resultam no melhor dos efeitos, havendo momentos menos inspirados com riffs e transições que soam algo dissonantes no contexto do que conhecemos do grupo, e que reduzem o impacto final de algumas faixas. No seu todo «The Lies I Sire» não é propriamente impressionante, particularmente se observado à luz de todo o trabalho anterior da banda. Ainda assim contém o suficiente para constituir uma adição imprescindível na colecção dos fãs, os quais terão novamente a oportunidade de se deixar envolver nesta expressão mais negra de desolação e melancolia que, paradoxalmente, lhes traz tanta felicidade.

in CLIP (Diário de Aveiro), 16 Abril 2009

quinta-feira, 9 de abril de 2009

SHINING

«IV – The Eerie Cold»
(Avantgarde, 2005/Peaceville, 2008) [8.5/10]


Publicado originalmente em 2005 foi considerado por momentos como o álbum derradeiro dos Shining, no entanto acabou por se tornar o prelúdio do genial «V-Halmstad» que surgiria dois anos depois. Registando uma evolução notória sobre toda a produção anterior da formação sueca, «IV-The Eerie Cold» é uma experiência atormentada sobre depressão e demência, sendo talvez o primeiro disco a capturar verdadeiramente todo o conceito de autodestruição idealizado pela mente perturbada de Niklas Kvarforth. Inexoravelmente opressiva, a música retém todas as características da sonoridade Black Metal embora raramente siga em andamento rápido. De facto até inclui uma mão cheia de segmentos lentos, semi-acústicos, um trabalho de guitarra solo que é invulgar nestas lides, bem como algumas das passagens de piano que se tornaram tão mais prevalentes no disco seguinte. No entanto o que sobressai é uma atmosfera permanente de angústia e desassossego, intensificada de forma decisiva pela prestação vocal torturada de Kvarforth que por vezes parece até ultrapassar os seus próprios limites físicos na expressão de emoções de pesar, desespero e dor. Se conhecem os Shining apenas através do mais divulgado «V-Halmstad» então recomenda-se que concedam uma oportunidade a esta reedição (que apenas adiciona à original uma introdução irrelevante) enquanto esperam pelo já anunciado «VI-Klagopsalmer».
in CLIP (Diário de Aveiro), 9 Abril 2009

sábado, 28 de março de 2009

Edição de Mar 31, 2009

Na 2ª Hora

Entrevista com Andrew Craighan, guitarrista dos britânicos MY DYING BRIDE a propósito do mais recente álbum «The Lies I Sire».

- "Nunca pensamos seriamente em voltar a introduzir o violino até ao dia em que surgiu a oportunidade de ter uma violinista na banda. Mesmo assim foi uma decisão muito ponderada";
- "Se estiveres interessado em dar a conhecer a alguém os My Dying Bride numa perspectiva global de passado e presente, este é o disco que deves indicar primeiro";
- "O tema central deste album é a religião em geral. Usamos o cristianismo em particular como a face de todas as religiões porque aqui, no Reino Unido, é censurável e até perigoso criticar muitos dos outros credos."
(Andrew Craighan)

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sábado, 21 de março de 2009

Edição de Março 24, 2009

Na 2ª hora:
- CLASSICS IV -

Clássicos de sempre dos King Crimson, Iron Maiden, Slayer, Autopsy, Moonspell e Anathema entre outras, escolhidos e apresentados pelos nossos entrevistados:
Mathias “Warlord” (TURISAS), Greg Chandler (ESOTERIC), Andreas Jacobsson (DRACONIAN), ATF Sinner (HATE), Flemming Lund (THE ARCANE ORDER) e Sadlave (OBTEST) entre outros.

quinta-feira, 12 de março de 2009

AMON AMARTH

«Twilight of the Thunder God»
(Metal Blade, 2008) [7/10]

Este é um disco com potencial para gerar reacções muito diversas, talvez mesmo contraditórias. Por um lado os riffs atraentes, aparentemente inesgotáveis nesta formação sueca, as linhas melódicas magníficas e os temas líricos que projectam representações vívidas de vikings sanguinários e divindades vingativas do panteão nórdico - uma imagem de marca já celebre neste colectivo - fazem deste um trabalho não só irresistível para os incondicionais da banda, como algo de muito apelativo para os fãs de death metal melódico em geral. Contudo, apesar de perfeito em praticamente todos os aspectos e de incluir pela primeira vez em mais de uma década a participação de alguns músicos convidados, este é um álbum que não acrescenta nada ao que os Amon Amarth já fizeram. A sensação que fica é mesmo a de mais um conjunto de dez novos temas que bem podiam ser a continuação do disco anterior. Para os adeptos mais conservadores esta é, claro, uma qualidade desejada que descrevem como ‘consistência’. Para os outros poderá soar a repetição ou a estagnação. É provável que a banda esteja simplesmente a jogar pelo seguro. O apego a uma fórmula que originou resultados comerciais muito positivos (sucedeu com «With Oden on Our Side») num grupo que recentemente se profissionalizou, passando a constituir actividade exclusiva e por conseguinte única fonte de rendimentos dos seus membros, equaciona necessariamente a integridade artística do quinteto. Mas em lugar de tirar conclusões precipitadas o melhor mesmo é esperar pelo próximo trabalho.

in CLIP (Diário de Aveiro), 12 Março 2009

sexta-feira, 6 de março de 2009

Edição de Mar 10, 2009

Na 2ª Hora
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Entrevista com Proscriptor McGovern (Russley Randell Givens), baterista e vocalista dos norte-americanos ABSU a propósito do mais recente álbum «Absu».
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- "Durante muito tempo não interiorizei o abandono do Shaftiel e do Equitant, e nos anos que se seguiram alimentei sempre a esperança de que voltassem";
- "Comparado com o «Tara» este é um álbum de agressividade mais controlada e mais maduro do ponto de vista da composição. Este é o início de uma nova era para os Absu";
- "Somos provavelmente o que há de mais idiosincrático na música extrema. Serão os Absu algo que transcende o entendimento habitual que se faz duma banda de metal? Eu penso que sim. Será que isso me preocupa? Claro que não!"
(Proscriptor McGovern)
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quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

THE FIRSTBORN

«The Noble Search»
(Major Label Industries, 2008) [9/10]

Apesar de morno em termos de produção internacional 2008 ficou marcado por alguns lançamentos nacionais de qualidade sem precedente dentre os quais se destacou o quarto álbum dos The Firstborn. Claramente um sucessor natural de «The Unclenching of Fists», o álbum que assinalou, em 2005, mudanças dramáticas na sonoridade do colectivo lisboeta, «The Noble Search» acaba por ser mais do que isso, registando uma evolução e aperfeiçoamento notórios em todas as frentes artísticas, assim como uma abertura a novas abordagens algo experimentalistas que desafiam categorizações. Pautado por uma composição equilibrada e criativa que o afasta das concepções tradicionais mesmo nas partes de black/death metal puro e duro, este é um trabalho elaborado com temas mais longos que funcionam melhor no seu todo, e onde a colocação dos instrumentos orientais soa bem mais harmoniosa do que no disco anterior. Gravado no País de Gales por Chris Fielding (Primordial entre outros) com a ajuda preciosa de uma mão cheia de músicos convidados de onde se destaca o percussionista Vorskaath dos gregos Zemial, Luis Simões dos Saturnia e Blasted Mechanism (na cítara), e os vocalistas Proscriptor Mcgovern dos Absu e Hugo Santos dos Process of Guilt, este é o disco que coloca definitivamente a banda de Bruno Fernandes num patamar acima da concorrência, distinguindo-os como um caso deveras singular na cena portuguesa.

in CLIP (Diário de Aveiro), 26 Fevereiro 2009

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Edição de Fev 17, 2009

Na 2ª Hora

Entrevista com Bruno Fernandes, vocalista dos portugueses THE FIRSTBORN a propósito do mais recente álbum «The Noble Search».

- "No futuro queremos voltar a ter músicos de fora a colaborar com a banda nas gravações e até na composição; é uma experiência muito gratificante";
- "Este disco foi composto de uma forma muito simples: apenas eu e uma velha guitarra a tentar descobrir ideias musicais adequadas às letras";
- "O tema do Budismo surgiu no "The Unclenching..." quase por acidente, quase como um complemento estético para a música que na altura estavamos a compor. Este álbum já foi pensado à partida com o Budismo como tema central";
(Bruno Fernandes)
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sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

MISANTHROPE

«IrremeDIABLE»
(Holy Records, 2008) [7/10]

Quem conhece um pouco dos Misanthrope já está por certo familiarizado com a simpatia que a banda sempre nutriu pelos grandes temas da cultura e história francesas. Desta vez o assunto é Charles Baudelaire, ícone da literatura universal do Sec. XIX a quem Philippe de L'Argilère presta homenagem de peso neste novo álbum, cuja gravação ocorreu exactamente 150 anos depois da publicação de «Le Fleurs du Mal». Musicalmente «IrremeDIABLE» não foge muito ao que a banda tem vindo a apresentar nos últimos anos, descrevendo-se como thrash/death de grande calibre técnico e composição sofisticada, com teclados subtis e algumas orquestrações pontuais. Anthony Scemama enche sempre o ouvido com um trabalho de guitarra prodigioso enquanto que a prestação vocal de de L'Argilère, toda em francês e com as suas tradicionais recitas quase choradas, continua a ser algo que exige alguma habituação. O que é mesmo diferente neste nono álbum dos Misanthrope é o baixo de Jean-Jacques Moréac que surge frequentemente em evidência em modo slap e, em geral, numa abordagem mais jazzy. É aliás à custa desta novidade e de pouco mais que a componente instrumental sobressai de vez em quando. Fora isso pode dizer-se que a música funciona essencialmente para servir a componente lírica, o que é claramente um ponto desfavorável. Neste contexto «Metal Hurlant», o álbum anterior, conteve, em média, material muito mais bem conseguido, tendo ficado pois mais ao nível do melhor que já ouvimos do colectivo francês.

in CLIP (Diário de Aveiro), 12 Fevereiro 2009

sábado, 31 de janeiro de 2009

GUILLOTINE

«Blood Money»
(Pulverised Records, 2008) [6.5/10]

Pode parecer mais um novo colectivo contagiado pela recente onda revivalista de thrash metal, mas não é. Trata-se antes do regresso (mais um!) de um projecto criado por dois membros dos Nocturnal Rites que se deu a conhecer ao mundo em 1997 através de «Under the Guillotine», um álbum muito retro mesmo para a altura, que eles próprios dizem ter sido feito em homenagem às velhas glórias do género da década de 80. Onze anos depois o espírito old-school mantém-se intacto na sua essência (está de resto bem patente na vistosa capa do disco da autoria do lendário Ed Repka), embora a música tenha melhorado muito no que toca à composição e inclua desta vez algumas referências ao thrash/death mais contemporâneo. Ao todo são doze faixas sempre em ritmo corrido e com grandes malhas que evocam da melhor maneira o legado mais remoto deixado por celebridades como Slayer, Exodus e Kreator. Embora não seja fácil para uma banda como os Guillotine escapar à acusação recorrente de serem um rip-off dos grupos originais que tentam imitar, isso pouco importa para os eternos saudosistas dos tempos áureos do thrash metal. É para esses em particular que «Blood Money» se recomenda.

in CLIP (Diário de Aveiro), 29 Janeiro 2009

sábado, 24 de janeiro de 2009

Edição de Jan 27, 2009

Na 2ª Hora

Entrevista com Nils Eriksson, baixista dos suecos GUILLOTINE a propósito do mais recente álbum «Blood Money».

- "Uma das razões que despoletou este regresso foi o facto de ter encontrado debaixo da cama umas cassetes velhas da banda com fragmentos de canções";
- "Não penso que a nossa música vá "beber" em demasia às origens do thrash. Se o fazemos é mais num espirito de homenagem do que com intenção de plágio";
- "Isto não é apenas um projecto paralelo para fazer meia dúzia de concertos e gravar um disco de vez em quando; É uma banda a sério!"
(Nils Eriksson)
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sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

NOVEMBRE

«The Blue»
(Peaceville Records, 2008) [7/10]

Depois dum álbum marcado por um considerável afastamento das sonoridades extremas do passado em favor duma abordagem sonora mais relaxada e acessível, talvez já ninguém esperasse que os Novembre voltassem à agressividade do gothic/death metal dos seus tempos mais gloriosos. No entanto, para gáudio dos fãs mais antigos da banda italiana, este novo álbum volta a contar com algumas tiradas demolidoras e com o registo vocal áspero e angustiado de Carmelo Orlando que confere ao disco momentos de uma atmosfera intensamente dramática. Porém, mais pesado não significa melhor. É difícil identificar exactamente o que é que não funciona neste disco, mas eu apontaria para o estilo de composição estranha e demasiado irregular que rege a maior parte da música. Os temas continuam a incluir a maioria dos elementos característicos do som Novembre, nomeadamente segmentos acústicos brilhantes, linhas de guitarra magníficas e um trabalho de percussão que fica no ouvido, porém acabam por deixar para trás muito pouco de memorável. Pouco variado na sua mais de uma hora de duração, “The Blue” carece da inspiração que presidiu à criação de discos anteriores, resumindo-se assim a pouco mais do que um retorno insípido à faceta mais extrema do colectivo Romano.

in CLIP (Diário de Aveiro), 15 Janeiro 2009

domingo, 11 de janeiro de 2009

Edição de Jan 13, 2009

Na 2ª Hora
Entrevista com Johan Soderberg dos suecos AMON AMARTH a propósito do mais recente álbum «Twilight of the Thunder God».

- "Depois do álbum "With Oden on our Side" começamos a preocupar-nos mais em criar músicas simples e acessíveis";
- "Não considero que tenhamos estagnado. Neste álbum até fizémos algumas experiências novas, contamos com a colaboração de músicos convidados e passamos por cima de regras internas que tínhamos como invioláveis"
(Johan Soderberg)
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