sexta-feira, 31 de outubro de 2008

TO-MERA

«Delusions»
(Candlelight, 2008) [9/10]

Figurando já entre os grandes talentos da colheita mais recente de bandas de metal progressivo os britânicos To-Mera surgiram em 2004 por iniciativa conjunta da ex-vocalista dos Without Face, Julie Kiss, e do baixista Lee Barrett (cuja notoriedade pela descoberta dos Opeth já ultrapassa a sua fama de ex-Extreme Noise Terror). Depois de um ousado primeiro disco que lhes valeu o acesso directo aos palcos de alguns nomes prestigiados da cena, regressam agora com um trabalho ainda mais criativo e diversificado em sonoridades. Conquanto a música inclua aqui e ali construções e atmosferas que se identificam facilmente com o trabalho de bandas como Dream Theater e Aghora, a composição inventiva e dinâmica do colectivo assume já uma personalidade própria que muito fica a dever à versatilidade do guitarrista Tom MacLean e ao virtuosismo do pianista/teclista Hen. Poderoso em algumas partes, jazzy e sofisticado noutras (incluindo solos de saxofone), suave e ambiental noutras ainda, sempre pautado por um tecnicismo de fazer cair o queixo, e com refrões cativantes protagonizados pela magnífica voz de Kiss que se revela no seu melhor, «Delusions» é um disco fascinante com mundos para descobrir em cada audição.

in CLIP (Diário de Aveiro), 30 Outubro 2008

sábado, 18 de outubro de 2008

WATAIN

«Sworn to the Dark»
(Season of Mist, 2007) [8/10]

Depois de tanta hipérbole em torno deste álbum e das recorrentes insinuações que suscitou quanto à suposta colagem da banda a um dos ícones favoritos do death/black sueco, foi com uma dose acrescida de curiosidade que abordei este disco. Embora certos traços melódicos ao estilo celebrizado pelos lendários Dissection já emergissem do black metal bárbaro do álbum anterior, «Casus Luciferi», este terceiro registo de originais mostra, na verdade, os Watain a abraçarem sem preconceitos o conceito sónico de beleza infernal que foi a essência do legado da banda de Jon Nordveidt. Contudo, «Sworn to the Dark» é mais do que uma simples recriação de velhas glórias. A sua composição de proporções quase épicas cheia de ganchos infecciosos, transições à Slayer, segmentos a meio tempo (agora mais frequentes) a alternar com as blast-beats devastadoras, magníficas linhas melódicas de guitarra que se enleiam em torno dos poderosos riffs old-school, e um som crispado que permite distinguir nitidamente cada um dos instrumentos, conferem-lhe a frescura necessária para que o álbum soe claramente actual. As imprecações diabólicas de Erik Danielsson confirmam este trabalho como um imponente tributo às forças da escuridão, e uma das mais convictas homenagens ao grande antagonista.

in CLIP (Diário de Aveiro), 16 Outubro 2008

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

NACHTMYSTIUM

«Assassins: Black Meddle Part 1»
(Candlelight, 2008) [9.5/10]

Quem busca ainda o pouco de inovador que se produz actualmente no seio das sonoridades mais extremas deve ter com certeza tropeçado já num tal «Instinct: Decay», álbum que concentrou atenções pela curiosa abordagem alucinogénia a um black metal sujo e demolidor. O percurso artístico prévio da banda norte-americana em causa fez sempre suspeitar, no entanto, que este disco de 2006 era apenas uma etapa incremental dum processo evolutivo que estava ainda para produzir o seu resultado mais significativo. Como quase sempre, a realidade superou todas as expectativas. O álbum seguinte, este «Assassins», é não só uma entidade inteiramente diversa de tudo o que os Nachtmystium gravaram até agora, como um dos lançamentos mais marcantes de 2008. Afastado da violenta negritude de outrora e com as blast-beats a funcionar mais como excepção do que regra, é neste quarto longa duração que o líder Blake Judd dá largas finalmente às suas influências rock dos anos 70. O som das guitarras e o estilo dos solos fazem recuar mentalmente à sonoridade hipnótica que Tony Iommi e David Gilmour deixaram para a posteridade em discos como «Sabotage» ou «Meddle». O baterista convidado, Tony Laureano, mostra que as suas aptidões vão muito além da metralha do death metal onde é reconhecido como autoridade. Com acenos frequentes ao psicadelismo espacial Pink Floydiano, duas primorosas intervenções de um saxofone, alguns coros orelhudos punk pelo meio e uma composição simples mas certeira, «Assassins» realiza na totalidade o derrube de barreiras estéticas que o álbum anterior não ousou mais do que insinuar. Absolutamente recomendado.

in CLIP (Diário de Aveiro), 9 Outubro 2008

sábado, 4 de outubro de 2008

Edição de Outubro 7, 2008

Na 2ª Hora
Entrevista com os Aveirenses
THE LAST OF THEM a propósito do álbum «Slow Motion Chaos».

- "Ainda agora começamos a aventura; vamos até onde isto der. Se pudéssemos chegar com a banda a um nível profissional já seria uma batalha ganha";
- "Mesmo com os meios que existem hoje, está cada vez mais difícil. Torna-se mais complicado encher casas, que é exactamente o que uma banda precisa para se tornar profissional e conseguir criar uma base de fãs muito forte";
- "Estar a rotular que tipo de death metal... também há lá disso, assim como um pouco de todos os clichés que existem no metal, no rock e por aí além";
- "Queremos ver isto, não como uma continuação de Sonic Flower, mas como uma evolução do que já se fazia nos Sonic".

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

ARKAN

«Hilal»
(Season of Mist, 2008) [7.5/10]

É mais uma estreia de relevo a assinalar este ano, desta feita da autoria de um colectivo radicado em Paris mas que é formado maioritariamente por músicos oriundos da Algéria e de Marrocos, e que se propõe harmonizar as sonoridades tradicionais das suas culturas com a agressividade globalizante do metal. O resultado é um trabalho interessante com mais de uma hora de riffs possantes por vezes a roçar os géneros mais extremos, nos quais se diluem uma miríade de ritmos e motivos sonoros exóticos produzidos por instrumentos folk, bem como uma diversidade de registos vocais que vão desde o gutural cavernoso aos coros e às vozes femininas. A voz natural de Abder Abdallahoum, o dinamismo da composição e os arranjos étnicos elaborados são pontos fortes na música dos Arkan, porém a banda parece não conseguir evitar certas estruturas genéricas que se prolongam por demasiado tempo e que acabam por subtrair qualidade a alguns dos temas. Esteticamente o álbum soa também um tanto ou quanto desnorteado, o que até não surpreende num primeiro disco. Para quem aprecia esta fusão entre o peso esmagador do metal e a delicadeza mística dos sons das arábias, «Hilal» será sem dúvida uma excelente alternativa aos trabalhos de bandas como Orphaned Land e Melechesh.

in CLIP (Diário de Aveiro), 2 Outubro 2008