sábado, 20 de janeiro de 2007

Os 10+ de 2006

Decapitated - «Organic Hallucinosis»
Shadows Land - «Terminus Ante Quem»
Beyond Twilight - «For the Love of Art and the Making»
Cult of Luna - «Somewhere Along the Highway»
Summoning - «Oath Bound»
Enslaved - «Ruun»
Agalloch - «Ashes Against the Grain»
Secrets of the Moon - «Antithesis»
Falconer - «Northwind»
Disillusion - «Gloria»

2006 foi mais um ano marcado por excelentes lançamentos discográficos de grande qualidade. A lista de álbuns que se apresenta como os dez melhores, é uma selecção de entre as cerca de três centenas de discos que, ao longo dos últimos doze meses, tivemos o prazer de dar a conhecer no Cais do Paraíso. Como qualquer selecção, esta também tem muito de pessoal, sendo ligeiramente polarizada no sentido das sonoridades mais extremas – as mais favorecidas no programa. Todos os álbuns da lista foram alvo de uma curta crítica nesta secção, em passadas edições do Clip. Sete deles foram Álbuns do Mês no Cais do Paraíso.
Não tendo a intenção de apresentar um ranking da 1ª à 10ª posição (ou seja, a ordem expressa na lista não é de todo relevante), a verdade é que alguns destes álbuns, pela sua superioridade, asseguraram desde logo um lugar nesta tabela, enquanto que outros conquistaram o seu lugar só após alguma disputa. Na primeira categoria incluem-se o álbum dos Decapitated, um exemplo paradigmático do melhor death metal da actualidade, o último dos Summoning, como sempre algo de mágico e fora deste mundo, o terceiro álbum dos Disillusion, a maior surpresa do ano e talvez o disco mais inovador de 2006, o último Beyond Twilight, uma obra prima na área do progressivo, e finalmente o novo dos Secrets of the Moon, que nos trouxe o melhor da nova geração de black metal. Dos restantes discos destacaríamos em particular o dos Agalloch, pela profundidade e envolvência, e o dos suecos Cult of Luna. Se caso a lista não se limitasse aos dez títulos, os discos adicionais a constar incluiriam necessariamente o esmagador «AssassiNation» dos brasileiros Krisiun, «The Longest Night» dos Pharaoh, um grande álbum de heavy tradicional, e «Emissaries», o último exercício em Mesopotamiam metal dos Melechesh.
Apesar de somar já três décadas de história, a cena metálica está longe de acusar sinais de esgotamento artístico. Em 2006 isso ficou provado, e a julgar pelos lançamentos prometedores que se vislumbram no horizonte, é de prever que 2007 seja um ano igualmente fértil.

in CLIP (Diário de Aveiro), 4 Janeiro 2007

quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

INTO ETERNITY

«The Scattering of Ashes»
(Century Media/Recital, 2006) [8/10]

Um cruzamento entre o melhor thrash e alguns géneros mais extremos, com riffs e sequências memoráveis que integram na perfeição tanto melodia como brutalidade, solos dignos de um guitar hero de formação neoclássica e um vocalista que alterna com frequência e sem esforço aparente entre o gutural e um registo limpo que varre várias oitavas, é como se pode traduzir, em poucas palavras, este novo álbum dos Into Eternity. Esta formação de Tim Roth revelou-se em 2001 com o ligeiramente progressivo «Dead and Dreaming», voltando depois a surpreender com «Buried in Oblivion». Mais directo e coeso, mantendo intactos os elementos que definem a sua própria imagem de marca, este é o álbum mais pesado até à data da banda canadiana e mais um passo determinado numa carreira que, provavelmente, ainda está longe de gerar o seu melhor.

in CLIP (Diário de Aveiro), 21 Dezembro 2006

quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

NAPALM DEATH

«Smear Campaign»
(Century Media/Recital, 2006) [8/10]

Se é verdade que os Napalm Death já deram sinais de querer revitalizar o género que eles próprios inventaram há duas décadas atrás, «Smear Campaign» não deixa dúvidas quanto à repescagem dessas raízes grindcore e crust. Os riffs brutais sucedem-se a um ritmo demolidor, em cadências que alternam entre torrentes de blast beats e andamentos característicos do hardcore. Embora a abordagem simples e suja do punk seja a dominante, algumas faixas incluem traços de death metal vagamente reminescentes de «Diatribes» que enriquecem a música e a variedade do disco. Barney Greenway intercala o seu habitual rugido titânico com gritos estridentes, vociferando reflexões relativas à religião em geral, e à forma como esta limita as mentalidades. Com a experiência acumulada e um som mais modernizado os Napalm Death mantêm assim o estatuto de banda de referência no panorama da música extrema actual.

in CLIP (Diário de Aveiro), 14 Dezembro 2006

quinta-feira, 4 de janeiro de 2007

BEYOND TWILIGHT

«For the Love of Art and the Making»
(Massacre Records/Recital, 2006) [9/10]

Um ano depois de «Section X», eis o regresso dos Beyond Twilight com um álbum que vai ficar na história do metal progressivo. Trata-se de uma única peça de 38 minutos de duração, uma autêntica sinfonia metálica, muito complexa mas ao mesmo tempo fácil de acompanhar, que reflecte sem dúvida a melhor inspiração de sempre do líder do quinteto dinamarquês, Finn Zierler. Um trabalho rico em detalhes que passam pelo toque neoclássico, pelos coros, pelos magníficos arranjos de cordas, as mudanças de andamento inesperadas e as constantes mostras de virtuosismo nas teclas (Zierler) e guitarra (Jacob Hansen). Tudo isto sem descurar o peso do metal, que aqui parece ser ainda mais intenso do que nos dois discos anteriores. «For the Love of Art and the Making» é um disco sobre a paixão de fazer arte. Um trabalho obrigatório para todos os fãs de prog.

in CLIP (Diário de Aveiro), 07 Dezembro 2006

SECRETS OF THE MOON

«Antithesis»
(Lupus Lounge/Nemesis, 2006) [9.5/10]

Apesar de ocultos até agora nas teias do underground, já deram mostras do seu potencial quando publicaram o arrojado e desconcertante «Carved in Stigmata Wounds» em 2004. Dois anos depois, o colectivo alemão regressa com «Antithesis» um trabalho de composição mais elaborada e objectiva, e onde todos os elementos parecem encaixar na perfeição. Os temas líricos inserem-se bem na corrente de black metal mais moderno e a música inclui também as habituais blast-beats, mas o espírito é muito mais avantgarde. Secções lentas como no doom, uma grande variedade de mudanças de ritmo, breaks inesperados de cortar a respiração, solos brilhantes - tudo integrado na atmosfera mais negra que se possa imaginar. Em poucas palavras, «Antithesis» é o equilíbrio perfeito entre agressão e subtileza, pura arte diabólica na sua mais grandiosa expressão.

in CLIP (Diário de Aveiro), 23 Novembro 2006

DISILLUSION

«Gloria»
(Metal Blade/Recital, 2006) [9.5/10]

Em lugar de descansarem sob os louros que «Back to Times of Splendor» lhes rendeu em 2004 e seguirem a velha máxima de “não mexer em equipa vencedora”, apresentando agora um novo álbum com a mesma orientação musical que lhes garantiria o sucesso imediato, os Disillusion optaram pela caminho mais arriscado: o da mudança. Deixando cair todas as anteriores referência a Opeth, o trio germânico pegou desta vez em elementos não só da área do metal e do prog, mas também do electro, gotíco, jazz e até pop, criando um trabalho conceptual que soa diversificado, inovador e bem estruturado. É uma ruptura quase completa com o passado, daquelas que ou se adora ou se detesta. Citando o vocalista/guitarrista Andy Schmidt: “De vez em quando a cena metálica internacional precisa de levar um pontapé nos tomates” Com «Gloria» os Disillusion fizeram exactamente isso. Ouch!...

in CLIP (Diário de Aveiro), 16 Novembro 2006

quarta-feira, 3 de janeiro de 2007

I

«Between Two Worlds»
(Nuclear Blast, 2006) [8.5/10]

Os fãs de Immortal não podem negar que ficaram todos de orelhas arrebitadas com o anúncio, há seis meses atrás, deste novo projecto de Abbath. De entre esses, os mais saudosos ficarão agora com certeza satisfeitos por saber que o álbum de estreia dos I soa mais a Immortal do que à partida seria de esperar. Digamos que é uma versão mais polida da lendária banda norueguesa, com um trabalho de guitarra mais elaborado e melódico, alguns coros e uma influência pronunciada de Bathory. Abbath cola-se até ocasionalmente à maneira de cantar de Quorthon mas é a sua característica voz rouca que domina o registo. Um trabalho excelente dum colectivo que, no entanto, poderá tornar-se redundante depois do já anunciado regresso dos Immortal.

in CLIP (Diário de Aveiro), 9 Novembro 2006

AGALLOCH

«Ashes Against the Grain»
(Grau/Nemesis, 2006) [9.5/10]

Já há muito que não ouvia um disco assim. Neste terceiro álbum a banda norte-americana em causa descarta quase por completo as influências folk de outrora, juntando desta vez elementos atmosféricos de black metal, muitas passagens acústicas e tranquilas com vozes limpas que remetem para a área do doom melancólico, e até uma costela progressiva. A música é envolvente e etérea, e as linhas melódicas de guitarra absolutamente hipnóticas.
O álbum emana sentimentos que são ora de nostalgia, ora de sofrimento e desespero, de uma forma que por vezes faz lembrar “Songs of Moors and Misty Fields” dos Empyrium.
«Ashes Against the Grain» é o disco ideal para absorver tranquilamente no fim dum destes dias cinzentos de Outono.

in CLIP (Diário de Aveiro), 2 Novembro 2006

terça-feira, 2 de janeiro de 2007

Cais do Paraíso - 11 anos de inferno na Aveiro FM

Por algum motivo que eu nunca vou compreender inteiramente, a música extrema continua a atrair apenas um grupo muito restrito de entre os apreciadores de rock. Se há alguns anos atrás tal se podia justificar por alguma limitação no espectro sonoro explorado habitualmente pelas bandas, hoje este é um género de horizontes musicais muito mais vastos, na realidade sem fronteiras definidas, que abarca um número sem precedentes de sub-géneros, fusões e estilos híbridos. A diversidade de oferta neste universo de sonoridades é hoje tão alargado que até a velha classificação de heavy metal caiu em desuso em favor da adjectivação mais comum de extrema, reflectindo assim a maior abrangência do género. Por outro lado, a evolução desta área mais agressiva do rock ao longo das duas últimas décadas, a par da concorrência natural, resultaram naquilo que hoje são os registos e a música tecnicamente mais elaborados de que há memória. Por outras palavras, nunca o metal foi tão interessante!
É precisamente esta realidade que tentamos dar a conhecer ao auditório da Aveiro FM, no Cais do Paraíso, todas as noites de terça-feira entre a meia-noite e as duas da madrugada. O programa dedica uma grande parte do tempo de emissão à divulgação dos mais recentes lançamentos do mercado discográfico, mantendo sempre um olhar particularmente atento sobre o panorama nacional. Como o público alvo é em geral do tipo que gosta de saber sobre o que ouve, a passagem da música é sempre que possível complementada com notícias ou informação relevantes acerca dos grupos, dos músicos em particular, discografias, etc., e especialmente sobre os espectáculos anunciados para os vários recintos da região norte e centro do país. Mantendo o sempre necessário contacto directo com os ouvintes, o programa inclui ocasionalmente alguns passatempos.
Com bastante regularidade são realizadas também entrevistas com as bandas. Este contacto directo com os músicos é altamente valorizado especialmente pelos ouvintes que desejam conhecer a fundo os discos e as bandas, permitindo ao mesmo tempo a difusão de informações em primeira mão. Neste contexto tivemos já o prazer de ter em antena mais de uma centena de entrevistas algumas das quais com grandes nomes da cena metálica actual como os Moonspell, Immortal, Nile, Dark Tranquillity, Mayhem, Bolt Thrower e Akercocke.
Ao longo de mais de uma década de emissões regulares o Cais do Paraíso teve o privilégio de acompanhar de perto e por dentro toda a efervescência registada na cena da música extrema, em particular a relativa às sonoridades underground mais radicais do espectro, que reconhecemos como as mais genuínas. Assim vamos continuar pois esta é a nossa paixão. Quem gosta de música verdadeiramente sem compromissos não terá dificuldades em deixar-se contagiar. Para esses o encontro fica desde já marcado nos 96.5, na próxima terça-feira à noite.
Para terminar, uma palavra de agradecimento à Aveiro FM pelo facto de, como nós, ter acreditado sempre neste projecto. Feliz aniversário Aveiro FM.
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in Diário de Aveiro, 23 Outubro 2006
Suplemento especial comemorativo dos 17 anos da Aveiro-FM

segunda-feira, 1 de janeiro de 2007

RUNEMAGICK

«Invocation of Magick»
(Aftermath Music/Nemesis, 2006) [8/10]

Uma banda de excepção e simultaneamente uma das mais subestimadas no underground, assim são os Runemagick. São também uma das mais produtivas, com nove álbuns publicados num espaço de oito anos, resultado de muita persistência e paixão por aquele que é o género menos popular do Metal. O mais recente longa duração, «Invocation of Magick», é mais uma viagem atormentada pelo Doom/Death arrastado e esmagador a que a banda já nos habituou. Épico como o anterior «Envenom»(2005), mas agora com temas menos monolíticos, arranjos mais variados e riffs da melhor inspiração. Um dos melhores momentos do trio sueco desde «Darkness Death Doom»(2003) e a prova repetida da paixão refinada que Nicklas Rudolfsson e Co. nutrem pelo género músical mais fúnebre engendrado desde sempre pela humanidade.

in CLIP (Diário de Aveiro), 26 Outubro 2006

FALCONER

«Northwind»
(Metal Blade/Recital, 2006) [8.5/10]

Após dois álbuns a vaguear indiferenciados pelas sonoridades maçadoras do Power Metal, é bom ver os Falconer voltar a fazer aquilo que eles melhor sabem fazer: Heavy Metal de contornos folk e medieval. Em 2001/2002 o quarteto sueco já tinha dado provas de possuir uma apetência muito especial para escrever temas memoráveis com estas características. No entanto circunstâncias de vária ordem levaram a banda a enveredar por uma direcção menos folk. Felizmente «Northwind» não só recupera na integra o espírito trovadoresco dos primeiros dois discos, como o expande quase até à perfeição, com uma composição inteligente, coros muito catchy e letras bem elaboradas sobre temas folclóricos que encaixam perfeitamente na atmosfera sonora do álbum. Mas o sucesso de «Northwind» fica a dever-se também, e em grande parte, ao regresso do antigo vocalista Mathias Blad, um caso à parte na cena metálica internacional sendo através do seu registo cristalino e pronuncia digna de um verdadeiro british que as canções adquirem a sua verdadeira dimensão folk. É raro acontecer, mas por vezes o retrocesso é mesmo o caminho mais acertado.

in CLIP (Diário de Aveiro), 19 Outubro 2006