domingo, 31 de julho de 2011

DRAGGED INTO SUNLIGHT

«Hatred for Mankind»
(Prosthetic Records, 2011) [8.5/10]

Lançado para o mundo originalmente em 2009 pela mesma editora que apostou anos antes nos necro extremistas Anaal Nathrakh, partilham com estes a convicção niilista com que debitam uma sonoridade corrosiva e devastadoramente apocalíptica. E ao fazê-lo movem-se sem esforço entre o sludge do doom e descargas black, cuspindo pelo meio torrentes de riffs cortantes como serras rombudas, acompanhadas de rugidos guturais e gritos dilacerantes que induzem o equivalente a um potente shot de adrenalina que nos mantém em permanente estado de alerta. Fascinante e perturbador.

in Clip (Diário de Aveiro), 28 Julho 2011

PEGAZUS

«In Metal We Trust»
(Black Leather Records, 2011) [2/10]

Embora a crise de ideias que grassa em todos os sectores do metal nos torne mais condescendentes com os artistas, há coisas que não resistem à mais cristã das tolerâncias. É o caso deste álbum: uma verdadeira e descarada antologia de todos os clichés mais pirosos, repetidos ad nauseam ao longo da década de 80. Nada, mas mesmo nada neste disco – nas estruturas e nos riffs bafientos de base, nos títulos das canções e do álbum, nas frases feitas das letras, nos coros risíveis e na capa de mau gosto – é uma criação genuína dos Pegazus. Não confundir por favor com revivalismo – isto é plágio; é fraude!

in Clip (Diário de Aveiro), 28 Julho 2011

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Lagoa de Calvão, 5 & 6 de Agosto

Já é uma referência incontornável no roteiro de festivais nacionais de metal e está a poucas semanas de regressar com um cartaz preenchido, uma vez mais, por alguns dos nomes mais sonantes – e desejados – da música extrema actual.
Das doze bandas que irão marcar presença nesta 3ª edição do Vagos Open Air, destacam-se desde logo os suecos Opeth, a banda do génio Mikael Akerfeldt que já completou duas décadas de uma sólida carreira e está a poucos meses de lançar «Heritage», o décimo registo de originais. Quem já os viu ao vivo, sabe que são mesmo especiais.
Igualmente a encabeçar o cartaz estão os Morbid Angel, um dos símbolos monstruosos do death metal norte-americano, que trazem na bagagem ainda a borbulhar o novíssimo «Illud Divinum Insanus». O facto da banda contar novamente, volvidos dezasseis anos, com o lendário vocalista David Vincent, será sem dúvida um motivo adicional para tornar este concerto imperdível.
Os Anathema, que já passaram pelo nosso país diversas vezes, trazem ao VOA o rock indie, melódico e atmosférico, dos seus últimos lançamentos, incluindo o ainda bem presente «We're Here Because We're Here». Do híbrido death/doom que ajudaram a criar no início dos 90s ficou a faceta introspectiva que é sempre patente nas actuações deste colectivo britânico.
Substitutos dos cancelados Nevermore, os Devin Townsend Project são, definitivamente, uma das melhores apostas deste edição do VOA. Trata-se do projecto de pendor new age (e não só) do hiper-activo e eclético Devin Townsend (ou HevyDevy), que acaba de lançar os álbuns «Deconstruction» e «Ghost», que lhe têm valido os mais rasgados elogios da crítica.
Outro foco de grande expectativa é a presença de Ihsahn, cujo trabalho a solo produzido nos últimos anos chega a ser tão arrojado e relevante como o foram no passado os melhores álbuns dos lendários Emperor. A melhor prova disso foi dada em 2010 com «After». Neste concerto o multi-instrumentista norueguês far-se-á acompanhar por músicos dos compatriotas Leprous.
Mas há mais razões para não perder o VOA deste ano, e uma delas fica a dever-se à presença dos Tiamat. Embora o encanto produzido pelo clássico «Wildhoney» seja uma imagem longínqua que não mais se repetiu, há muito quem considere que a formação de Johan Edlund é ainda uma das propostas mais desafiantes do underground actual.
Complementando o luxuoso elenco composto pelas seis bandas referidas, o VOA apresenta ainda os thrashers revivalistas Essence, os finlandeses Kalmah e um contingente português que este ano é composto pelos Crushing Sun, autores do melhor disco nacional de 2010, os nortenhos Revolution Within, os We Are The Damned, considerados uma das grandes revelações dos últimos tempos, e por fim os leirienses Malevolence que se apresentam ao vivo pela primeira vez depois dum longo período de completa reclusão.
Os bilhetes estão à venda nos locais habituais pelos preços de 30€ para um dia, e 50€ para os dois dias. Para mais informação consultar www.vagosopenair.eu.

in Clip (Diário de Aveiro), 21 Julho 2011

TESSERACT

«One»
(Century Media, 2011) [8/10]

Impressionaram no final de 2010 com «Concealing Fate», um EP de uma só peça que deixou muita gente de queixo caído pela genialidade com que fundiu sensibilidades várias desde o post-core ao progressivo, num exercício com partes iguais de emoção e técnica. Agora, neste que é o primeiro longa duração, o jovem quinteto britânico volta a apresentar o material do EP (dado que foi lançado só na Europa e esteve disponível apenas em edição digital), juntamente com mais cinco inéditos (destaco “Nascent” e “April”), que apesar de não acrescentarem nada de novo ao que já conhecíamos do épico «Concealing Fate» (claramente, a grande saliência deste disco), mantêm o mesmo cunho sónico feito de ritmos pulsantes e de texturas e tempos invulgares, firmemente ancorados em influências de Meshuggah, Textures e outras formações congéneres. Para além do notável trabalho de percussão e de baixo, «One» é muito valorizado pelas linhas vocais (limpas - também as há berradas) de grande beleza de Daniel Tompkis, cujo tom emotivo por vezes até faz lembrar Ray Alder dos Fates Warning. É certo que as composições não incluem solos de guitarra na acepção mais tradicional do termo, contudo a verdade é que a música da formação de Milton Keynes é suficientemente rica em termos de estrutura e de atmosfera para se manter apelativa mesmo sem eles. Com muitas tiradas de génio, um grande sentido de coerência e uma produção apostada em criar um som ‘ao vivo em estúdio’, «One» é um álbum do melhor que já se ouviu no chamado género djent, e que se recomenda particularmente aos fãs das bandas supracitadas.

in Clip (Diário de Aveiro), 14 Julho 2011