sábado, 23 de outubro de 2010

DEMONIC RESURRECTION

«The Return to Darkness»
(Candlelight, 2010) [8/10]

Quem teve a oportunidade de ver o documentário “Global Metal”, de Sam Dunn, deve estar pelo menos vagamente familiarizado com o nome Demonic Resurrection, um dos colectivos mais activos da florescente cena metal na India. Contando já com uma década de existência, tornaram-se recentemente na primeira banda daquele ponto do globo a assinar por uma editora ocidental de peso, e a romper fronteiras com este novo registo de originais. O que fazem é basicamente um black metal sinfónico, colado por vezes a Dimmu Borgir, com nuances de Cradle of Filth, mas que reverte frequentemente para outros modos de operação mais em linha com o death e o progressivo, e até com tiques ocasionais de power metal. Tirando o melhor partido desta sopa de influências, a formação de Bombaim apresenta um trabalho sólido e fluente, que impressiona pela musicalidade ao longo dos sessenta e tal minutos da sua duração. Individualmente, há que destacar o líder do grupo, Sahil Makhija, pela manifesta versatilidade vocal, bem como a excelente prestação do guitarrista solo de descendência portuguesa, Daniel Rego. Por outro lado, o disco soa também demasiadamente calculado e previsível. Para um grupo já no terceiro álbum seria de esperar pelo menos algum arrojo para além dos padrões explorados e seguros, já para não falar de alguma infusão de motivos locais capazes de conferir à sonoridade uma identidade distinta. De qualquer modo, este é um álbum interessante, duma banda com um talento inquestionável que vale a pena manter debaixo de olho.

in Clip (Diário de Aveiro), 21 Outubro 2010

sábado, 16 de outubro de 2010

DECREPIT BIRTH

«Polarity»
(Massacre Records, 2010) [8.5/10]
Os fanáticos de desafios mentais extremos do tipo que é habitualmente proporcionado por bandas como Psycroptic, The Faceless e Obscura, têm aqui mais um puzzle sónico para lhes dar a volta ao miolo. Os autores deste puzzle de death brutal e extraordinariamente técnico, já deram mostras do que eram capazes, em 2008, com o estonteante «Diminishing Between Worlds». Contudo, de lá para cá, a progressão foi notável. Reduzindo um ou dois furos na complexidade da composição e deixando mais espaço para a música respirar entre as barragens de riffs demolidores, a banda norte americana criou com «Polarity» um trabalho relativamente mais fácil de acompanhar e com detalhes mais distintos. Com uma execução prodigiosa de todos os instrumentos, as referências aos pergaminhos do saudoso Chuck Schuldiner são agora especialmente notórias no estilo de leads virtuosos que irrompem constantemente entre mutações rítmicas tresloucadas. Embora os andamentos sejam quase sempre a abrir e o pedal duplo a mil à hora não dê tréguas, não há aquela obsessão doentia pelo martelanço enfadonho que persiste em muito death metal. As faixas são também mais curtas do que o habitual (metade delas não passa dos três minutos), incorporando, ainda assim, mais ideias atractivas e pormenores de encher o ouvido, do que aquelas que muitas formações do género conseguem apresentar no dobro do tempo. E no fim resta ainda substância em quantidade suficiente para obrigar a umas quantas visitas à vitrola, até conseguirmos desenredar a maior parte da meada sonora.

in Clip (Diário de Aveiro), 14 Outubro 2010