domingo, 23 de novembro de 2008

Edição de Novembro 25, 2008

Na 2ª Hora

Entrevista com Ricardo Dias dos portugueses HEAVENWOOD a propósito do novo álbum «Redemption».

- "Esta longa paragem acabou por influenciar-nos de forma muito positiva, resultando num trabalho com o qual estamos inteiramente satisfeitos"
- "Não foi fácil manter a fidelidade aos Heavenwood do passado e fazer um disco ao mesmo tempo actual e com um pé no futuro, mas penso que o conseguimos"
- "O que nos fez parar em '99 foi uma certa desilusão com a editora da altura. Tivemos que aguardar depois a resolução do contrato e ultrapassar toda a maré negativa que se seguiu, até sentirmos a força necessária para recomeçar"
(Ricardo Dias)
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sábado, 22 de novembro de 2008

KNEELDOWN

«Volcano»
(edição de autor, 2008) [8/10]

Embora tenham no thrash e no hardcore as suas referências de base e adoptem uma designação colectiva bem ao estilo do que é comum nestes nichos sonoros, o trabalho deste trio originário de Ponte-de-Sor está longe de se aparentar com o subproduto testosterónico e habitualmente medíocre que é produzido pela maioria das bandas do género. Nas cinco faixas de «Volcano» nada é estático. As músicas atravessam fases muito diversas, com riffs, estruturas rítmicas e pormenores de execução a serem debitados em ondas de intensidade variável que contagiam a todo o momento. Os temas são bem mais longos do que o habitual nestas andanças (5 a 8 minutos), acomodando uma composição sempre cuidada e abundante em ideias, com algo de imprevisível, e a evitar muitas vezes a saída fácil da repetição de segmentos. Os ritmos são raramente rápidos e a música passa com frequência por momentos melódicos que remetem para territórios mais para os lados do chamado post-rock. Apesar de gravado e produzido pela banda alentejana apenas com os parcos recursos da sua própria sala de ensaios, «Volcano» vem com uma óptima qualidade de som fruto do trabalho de masterização de Nexion K dos Re:Aktor, e é de longe uma das melhores edições de autor que já me chegou às mãos nos últimos anos.

in CLIP (Diário de Aveiro), 20 Novembro 2008

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

ELYSIAN BLAZE

«Levitating the Carnal»
(Asphyhiate Recordings, 2006 / Osmose Productions, 2008) [9/10]

Duvido que haja sonoridade mais depressiva e funerária do que aquela que é produzida pelos Elysian Blaze. Imaginem a fusão perfeita entre a opressão característica do doom e a aspereza do black metal, com vocalizações atormentadas e instrumentos que soam deliberadamente abafados, distantes na mistura e com uma reverberação ocasional, e talvez fiquem com uma vaga ideia da atmosfera incrivelmente gélida e fantasmagórica que emana de «Levitating the Carnal». Quem ouviu «Cold Walls and Apparitions» irá notar que este segundo álbum do projecto solo de origem australiana, agora reeditado, é em média mais lento, mas também de composição mais variada. A música transita suavemente entre andamentos de ritmo moderado conduzidos pela guitarra e passagens soturnas baseadas em piano ou teclados. De vez em quando a secção rítmica atroadora deixa de se ouvir de todo, deixando para trás, como que a flutuar, apenas um murmúrio longínquo e uma linha ténue e minimalista de guitarra ou piano, que resulta numa das ambiências mais desoladas e hipnóticas de que há memória. Não me é possível conceber tradução sonora mais fiel para o sentimento de desespero extremo ante a escuridão impenetrável. Baixem as luzes e deixem-se levar nesta jornada pelos recantos mais sombrios da alma.

in CLIP (Diário de Aveiro), 13 Novembro 2008

sábado, 8 de novembro de 2008

Edição de Nov 11, 2008

Na 2ª Hora

Entrevista com Paul Masvidal dos norte-americanos CYNIC a propósito do novo álbum «Traced in Air».

- "Foi depois da digressão de 2007, após experiências na sala de ensaios e algumas gravações em demo, que nos apercebemos que ainda tinhamos uma palavra a dizer enquanto Cynic";
- "Os Cynic são como que a raiz da nossa identidade como artistas. São uma espécie de energia intemporal, desligada das modas do momento";
-"Este álbum não é uma colecção de canções. É um trabalho coeso que deve ser apreciado como uma peça indivisível";
-"O "Focus" não teve o apoio merecido e acho que essa foi uma das razões que precipitou a dissolução da banda em '94.
(Paul Masvidal)

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

CYNIC

«Traced in Air»
(Season of Mist, 2008) [9/10]

Depois de uma dissolução prematura em 1994 e do entusiasmo que despertaram no Verão do ano passado com o anúncio de algumas datas ao vivo, regressam agora em pleno com o álbum mais aguardado do ano. Quem os conhece sabe que figuram nos anais da história do metal à custa do único disco que gravaram, e que a banda da Florida agrupava na altura nomes tão sonantes como Paul Masvidal, Sean Reinert, Sean Malone e Jason Gobel. Catorze anos depois os Cynic apresentam-se com a mesma formação nuclear (os três primeiros músicos) e um álbum bem à altura do legado deixado por «Focus», apesar de moldado à luz duma abordagem sónica actualizada. Esta passa pelos mesmos elementos de jazz de fusão, acoplados agora num estilo de metal/rock progressivo na linha de Porcupine Tree ou até Rush, e uma composição rica e fluente, embora não propriamente de assimilação imediata. Do death metal do passado ficou apenas a memória, o mesmo podendo ser dito em relação ao baixo proeminente de Malone - uma das marcas distintivas do som Cynic - que agora surge mais dissimulado e em segundo plano. Masvidal opta desta vez, e bem, pelo seu registo natural e por um recurso menos frequente à voz processada, assegurando ainda assim aquele carácter espiritual que reveste a música de uma certa ressonância cósmica. A voz gutural do novato Tymon Kruidenier surge apenas ao de leve, como voz de apoio, adaptando-se bem ao estilo menos agressivo desta nova encarnação dos Cynic. Segundo palavras do próprio Masvidal, «Traced in Air» é uma espécie de “regresso à inocência”; um retorno a um estado de pureza artística. Esperemos é que não seja também uma cura momentânea para uma crise de meia-idade e que os Cynic não desapareçam tão depressa como regressaram.

in CLIP (Diário de Aveiro), 6 Novembro 2008