sábado, 27 de fevereiro de 2010

ALTAR OF PLAGUES

«White Tomb»
(Profound Lore, 2009) [8.5/10]

Imaginem um híbrido de post hardcore e doom derivado de uns Neurosis ou Cult of Luna, com uma densa atmosfera drone a sugerir algo de vasto e apocalíptico, uma boa dose de black metal e um sentido épico maior do que a própria vida, e talvez fiquem com uma vaga ideia do que podem esperar deste ambicioso álbum de estreia dos irlandeses Altar of Plagues. Constituído por quatro faixas com durações entre dez a quinze minutos, «White Tomb» é um disco que se desenvolve tão lentamente quanto se possa imaginar, em crescendos que ganham corpo lentamente até explodirem em ondas de riffs arrasadores, percussões colossais e tempestades sónicas de desespero e raiva. A música faz-se de grandes excursões de intensidade com momentos de quase silêncio, linhas distantes de guitarra e camadas de teclados a conferir profundidade, alguns segmentos repetitivamente hipnóticos, e passagens torturadas de doom funerário marcadas por recitações de uma cólera pungente. Embora se situem, musicalmente, longe dos compatriotas Primordial, partilham com estes a convicção apaixonada que imprimem aos momentos mais abrasivos da música. Em termos líricos «White Tomb» move-se por entre questões ecológicas e ambientais, elaborando sobre uma imagem do choque entre civilização e natureza pintada em tons de negro. Apesar dos seus cinquenta minutos de duração, a composição minimalista tende a induzir uma certa sensação de insatisfação; de “saber a pouco”. Todavia, a verdade é que, por vezes, menos é mais, o que é sem dúvida o caso num álbum tão rico e multi-dimensional como este.

in CLIP (Diário de Aveiro), 25 Fevereiro 2010

sábado, 13 de fevereiro de 2010

MARDUK

«Wormwood»
(Regain Records, 2009) [8.5/10]

Vinte anos de actividade, onze LPs publicados, uma paixão inesgotável e quase obsessiva pela música que faz, e, sobretudo, uma relevância inegável na cena black metal actual como poucas bandas de segunda geração se podem gabar, são, resumidamente, os traços essenciais do retrato de Morgan Hakansson e dos Marduk. Depois da autêntica reinvenção que foi o extraordinário «Rom5:12», a formação sueca acaba de regressar com um álbum que aponta na mesma direcção desse disco de 2007, embora contenha descargas de blast-beats em doses mais massivas. Apesar disso, são os temas menos rápidos que continuam a sobressair, destacando-se aqui o venenoso “To redirect perdition” e a marcha triunfal “Funeral dawn”. A diversidade de andamentos proporcionam um espaço amplo de manobra para a expressividade vocal de Daniel “Mortuus”, que se mostra aqui – muito mais do que no disco anterior – detentor de qualidades laringicas que lhe permitem ir desde o gutural mais doentio e torturado, até ao bramido asperamente característico do metal desta negritude, passando por alguns detalhes únicos, como a forma como usa a respiração em “Into utter madness”. Não me recordo do anterior Erik “Legion” demonstrar semelhante versatilidade. O baixo de Magnus “Devo” é outro pólo de atracção e a sua proeminência na mistura confere à sonoridade geral um carácter ainda mais espesso e sombrio, particularmente nos segmentos mais lentos. Usando como título a tradução literal da palavra Chernobyl, para alguns sinal de punição divina, «Wormwood» é, segundo o próprio Hakansson, uma celebração do fim dos dias.

in CLIP (Diário de Aveiro), 11 Fevereiro 2010