sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

PRIMORDIAL

«To the Nameless Dead»
(Metal Blade, 2007) [9.5/10]

Mais que o talento inato ou o virtuosismo prodigioso, é da paixão pura que se destilam as demonstrações artísticas mais geniais. Pode até não ser uma verdade universal, mas é um facto que os Primordial demonstram, agora de forma definitiva, com este novo álbum de originais. Em seis registos de estúdio e quase vinte anos de carreira, nunca a fórmula de pagan metal característica do grupo irlandês resultou tão perfeita em todos os aspectos. As composições funcionam mais como um todo coeso e em alguns casos são até surpreendentemente elaboradas. Os acordes acústicos e os solos transpiram sempre aquele carácter folk sem o ser no sentido mais convencional do termo. Mais do que em qualquer outra ocasião as canções assumem por vezes um tom interventivo, sendo esta uma dimensão a adicionar à já vasta capacidade interpretativa de Alan Nemtheanga, que conjuga sentimentos de revolta com uma variedade de outras emoções dramáticas, expressas de uma maneira tão honesta que quase nos permite visualizar estados de alma. «Spirit the Earth Aflame», lançado em 2000, era o melhor álbum de sempre dos Primordial. Até agora.

in CLIP (Diário de Aveiro), 24 Janeiro 2008

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

BENIGHTED

«Icon»
(Osmose Productions, 2007) [8/10]

Este é um disco bastante mais interessante do que o simples rótulo death/grind costuma sugerir. É que embora a música se alinhe pelos pergaminhos básicos do género, com guitarras esmagadoras e uma percussão em rajada que trucida tudo à sua passagem, as composições incluem também elementos de thrash e hardcore e até leads melódicos pouco habituais nestes habitats hostis, que conferem a cada tema uma identidade muito própria - não apenas brutal, mas memorável e até infecciosa. Quase a completar a primeira década de actividade o colectivo gaulês tem vindo a evoluir numa direcção cada vez mais técnica, aperfeiçoando neste quinto disco de estúdio a fórmula extrema de «Identisick», o álbum de 2006, agora com riffs mais torcidos e uma percussão vigorosa e criativa. Trabalho conceptual, «Icon» descreve a espiral descendente de alguém afectado por uma patologia psicótica, servindo-se de vociferações que variam entre o gutural cavernoso, os gritos demenciais e o vómito doentio. Uma experiência de proporções telúricas em que a sobre dosagem decibélica se aconselha, declinando-se contudo toda a responsabilidade por eventuais efeitos mentais adversos.

in CLIP (Diário de Aveiro), 17 Janeiro 2008

domingo, 13 de janeiro de 2008

Edição de Janeiro 15, 2008

Na 2º Hora:

Entrevista com Dionysos (Tim Funke), guitarrista dos germânicos HELRUNAR a propósito do álbum «Baldr ok Íss».

"Este álbum é um pouco mais exigente: precisa de ser ouvido na integra para revelar toda a sua atmosfera. Funciona mais como um todo coeso, ao contrário do «Frostnacht» que foi um disco essencialmente de canções independentes"
(Dionysos, comparando o novo disco com o anterior)

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

THE BOMBS OF ENDURING FREEDOM

(s/t)
(Death to Music Productions, 2007) [7.5/10]

Inspirado no nome de código da operação militar norte-americana de resposta aos ataques do 11/09 de 2001, trata-se do novo projecto a solo de James Fogarty, anteriormente dos Ewigkeit e membro fundador dos The Meads of Asphodel. O álbum de estreia é um disco politicamente carregado que malha sem piedade em questões como a ‘guerra contra o terrorismo’ o fanatismo religioso e o controlo dos media. A atitude acusatória e o ataque verbal incisivo a par do background de Fogarty em lides mais extremas fariam prever uma abordagem sonora mais furiosa, contudo esta nova proposta não se afasta muito daquilo que já ouvimos dos Ewigkeit da fase «Conspiritus» (2005). Por outras palavras é algo entre o ortodoxo electro-punk e o metal industrial, com alguns elementos de drums’n’bass e muitos samples. As influências de Ministry saltam à vista em alguns temas e há até alguns rádio hits em potência. Publicado em edição limitada e numerada, «The Bombs of Enduring Freedom» só pode ser adquirido por pedido directo à editora, um selo sem fins lucrativos que tem a maior parte dos lançamentos disponíveis através de download gratuito.

in CLIP (Diário de Aveiro), 10 Janeiro 2008

sábado, 5 de janeiro de 2008

Os 10+ de 2007

Therion - «Gothic Kabbalah»
Psyopus - «Our Puzzling Encounters Considered»
Threshold - «Death Reckoning»
Dimmu Borgir - «In Sorte Diaboli»
Shining - «V – Halmstad»
Marduk - «Rom 5:12»
Turisas - «The Varangian Way»
Cobalt - «Eater of Birds»
The Ocean - «Precambrian»
Primordial - «The Nameless Dead»

Findo mais um ano de música é tempo de passar em revista o que de melhor 2007 nos trouxe. A lista acima apresenta uma selecção dos melhores álbuns do ano, escolhidos entre as várias centenas de discos que preencheram as cerca de cinquenta edições do Cais do Paraíso dos últimos doze meses. Como todas as selecções, esta também tem muito de pessoal e nesse sentido é ligeiramente polarizada na direcção das sonoridades mais favorecidas no programa - as mais extremas. Com excepção do último da lista, todos os álbuns foram alvo de uma curta crítica nesta secção em passadas edições do Clip. Oito deles foram Álbuns do Mês no Cais do Paraíso.
Seguindo a prática habitual, não se estabelece nenhuma ordem de preferência ou ranking entre os discos listados - cada um deles é o melhor à sua maneira. No capítulo das experiências sinistro-depressivas os Shining destacaram-se com um disco impressionante e os Cobalt surpreenderam com um dos álbuns mais inovadores dos últimos tempos. Os Marduk trocaram a obsessão da velocidade por uma abordagem mais elaborada que resultou no álbum de black metal do ano, enquanto os Psyopus não tiveram concorrência à altura nos domínios esquizofrénicos do mathcore e afins. Cinemático e megalómano, o disco dos Turisas foi a grande saliência do extremo mais acessível do espectro, a par da última novidade dos suecos Therion e do progressivo e super catchy álbum dos Threshold. Se caso a lista não se limitasse aos dez títulos, os discos adicionais a constar incluiriam necessariamente o último dos Mayhem, que voltaram a impressionar com o mesmo nível de inovação e experimentalismo, o prodigioso disco dos japoneses Sigh e, claro, o sofisticado trabalho dos Aghora.
Em 2007 as companhias discográficas continuaram a ver os seus negócios ensombrados pelos fenómenos da pirataria e do file-sharing, mas isso não parece ter afectado o volume de lançamentos. Contudo, esta é uma realidade que vai mudar a breve trecho. Quaisquer que sejam as transformações a este nível que o futuro reserva, o que nos interessa mesmo é que a boa música continue a fluir. Para nós trata-se de um bem de primeira necessidade.

in CLIP (Diário de Aveiro), 4 Janeiro 2008