quinta-feira, 29 de março de 2007

SONIC REIGN

«Raw Dark Pure»
(Metal Blade / Recital, 2007) [7.5/10]

Publicado em 2006 através duma pequena editora, o álbum de estreia do duo germânico é agora objecto duma divulgação mais alargada que lhe faz a justiça merecida. E assim é pois para além de irradiar toda a negritude do black metal, envolvendo tudo em volta numa atmosfera permanentemente densa e fria, este é um trabalho de agressividade controlada, inteligentemente construído e com passagens até bastante complexas. Embora os andamentos rasgados e explosivos sejam os dominantes, os oito temas são ricos em variedade, incluindo sequências mais lentas, por vezes melódicas, progressões memoráveis baseadas em poderosos riffs e algumas vocalizações limpas. O que subtrai a «Raw Dark Pure» é o facto de recorrer demasiado a sonoridades e estruturas que se associam de forma óbvia a bandas como Satyricon e Thorns. De resto o álbum constitui prova suficiente de que a banda tem o que é necessário em talento para criar no futuro algo bem mais relevante e inovador. Vamos aguardar.

in CLIP (Diário de Aveiro), 29 Março 2007

sexta-feira, 23 de março de 2007

Edição de Março 27, 2007

Na 2º Hora:

Entrevista em estúdio com Scott Unger, baixista dos canadianos ANTIQUUS, a propósito do lançamento do novo álbum «Eleutheria».

"Este é um álbum sobre liberdade. Começa com a história dum navio de descobridores rumo ao Novo Mundo. Depois os eventos que se sucedem são de facto uma metáfora que remete para a questão da descoberta de nós próprios como individuos"
(Scott Unger, sobre o novo disco)

quinta-feira, 22 de março de 2007

PROCESS OF GUILT

«Renounce»
(Major Label Industries, 2006) [8.5/10]

Quem teve a felicidade de conhecer a segunda demo dos Process of Guilt e, eventualmente, testemunhou o enorme progresso artístico registado em relação à primeira, deve ter ficado com a ideia de que, o que viesse a seguir só poderia ser excepcional. Pois foi ainda melhor. É que «Renounce», o álbum de apresentação do quarteto de Évora, é doom/death ao melhor nível capaz de ombrear com o melhor do género de além fronteiras. Solene e transbordante de emoção, o disco inclui sete lamentos fúnebres alicerçados em riffs tão lentos quanto atroadores, numa atmosfera desolada de vozes angustiadas e melodias melancólicas, onde a banda parece dominar com inteira confiança todos os aspectos da composição. Pela primeira vez denotam-se influências do chamado post-doom (Cult of Luna, Neurosis…), mas o que predomina mesmo é o doom/death tradicional. Perante música tão bem conseguida, a eventual colagem a alguns nomes estabelecidos da cena acaba por se tornar num aspecto pouco relevante, especialmente sabendo que se trata dum álbum de estreia.

in CLIP (Diário de Aveiro), 22 Março 2007

quinta-feira, 15 de março de 2007

PSYOPUS

«Our Puzzling Encounters Considered»
(Metal Blade / Recital, 2007) [9/10]

Como é humanamente possível tocar assim? - é sempre a questão que me assalta a mente por mais vezes que ouça este disco. Esqueçam todas as regras convencionais de composição e tentem imaginar estruturas rítmicas sem padrões repetitivos, completamente esquizofrénicas, dinâmicas, por vezes até hilariantes, e executadas a uma velocidade devastadora. Adicionem agora muita dissonância, uma boa dose de influências jazz, um trabalho de guitarra que bem poderia ser o de Steve Vai em estado mental alterado, uma percussão de fazer cair o queixo e vocais ao estilo hardcore, e talvez fiquem com uma vaga ideia de como soa este segundo álbum dos Psyopus. Em franco contraste com todo este caos organizado o disco inclui dois surpreendentes instrumentais incrivelmente melódicos, sendo precisamente nesta forma particular de lidar com os extremos sonoros que o quarteto norte-americano se distingue de referências incontornáveis como os The Dillinger Escape Plan e todo o movimento mathcore.

in CLIP (Diário de Aveiro), 15 Março 2007

domingo, 11 de março de 2007

Edição de Março 13, 2007

Na 2º Hora:

Entrevista com Marten Hansen, vocalista dos suecos THIS ENDING (ex- A Canorous Quintet) a propósito do lançamento do álbum de estreia «Inside the Machine».

"Embora isto não seja propriamente uma grande novidade em termos de estilo, penso que o que fizemos é, em muitos pormenores, diferente de outros discos do género"
(Marten Hansen, sobre o novo disco)

quinta-feira, 8 de março de 2007

ANTIQUUS

«Eleutheria»
(Cruz del Sur / Nemesis, 2006) [7/10]

Heavy musculado, bem enraizado no metal tradicional e com uma forte componente progressiva é o que nos trazem os canadianos Antiquus neste segundo disco de originais. Os oito temas que o integram são ricos em passagens elaboradas e em demonstrações individuais de criatividade e domínio técnico, especialmente no que diz respeito aos dois guitarristas da banda que fazem aqui autênticas maravilhas nas seis cordas. De proporções épicas, este é um trabalho conceptual sobre o que parece ser uma história trágico-marítima, cantada por um vocalista que nos melhores momentos se confunde com Rolf Kasparek (Running Wild), mas que deixa a desejar em muitos dos restantes. Também como menos positivo ressaltam certas transições estranhas que soam algo desarticuladas e que se devem provavelmente a uma produção descuidada, e o recurso a riffs demasiado gastos que contrastam com as pretensões elevadas da música. De uma banda que fez um álbum do nível de «Ramayana»(2005) era de esperar um pouco mais.

in CLIP (Diário de Aveiro), 8 Março 2007

quinta-feira, 1 de março de 2007

THIS ENDING

«Inside the Machine»
(Metal Blade / Recital, 2006) [7.5/10]

Lembram-se dos suecos A Canorous Quintet? Pois aqui estão eles de novo, exactamente com a mesma formação, mas com uma abordagem sonora renovada o que justifica a diferente designação colectiva. O death metal manteve-se, mas agora já não tem muito que ver com aquele estilo melódico que tresandou em meados dos 90’s. Em comparação os riffs têm mais punch e são mais groovy. A velocidade é mediana e a secção rítmica usa e abusa do double bass para enaltecer as cadências poderosas que sustentam a densa muralha sónica. Os temas apresentam aspectos técnicos catchy que sobressaem e a voz de Marten Hansen assume agora um tom quase sempre grave, muito embora as letras sejam do mais cliché que é possível ouvir no metal. Com produção e mistura impecáveis, o quinteto consegue, no geral, criar com sucesso algo alternativo sem ficar a milhas de distância do seu próprio passado. Mesmo assim o álbum tem uma dose não desprezável de coisas já ouvidas, e está longe de excelente, ficando a sensação de que uma formação deste calibre seria capaz de algo mais impressionante.

in CLIP (Diário de Aveiro), 1 Março 2007