sexta-feira, 26 de junho de 2009

OBSCURA

«Cosmogenesis»
(Relapse Records, 2009) [8.5/10]

Quem aprecia metal técnico, daquele tipo em que o virtuosismo gritante dos músicos nos deixa de queixo caído, abananados, a perguntarmos como é possível tocar assim, não deve perder este disco por nada. Embora venha rotulado como death metal a música aqui presente afasta-se sobremaneira dos lugares comuns do género, incorporando elementos neoclássicos nas estruturas de base assim como nos magníficos solos que transbordam de influências de ícones da guitarra, como Yngwie Malmsteen entre outros. Frenético e demolidor mas com interregnos amenos a fazer o contraponto, «Cosmogenesis» é um trabalho rico em momentos brilhantes onde a composição, apesar de intrincada, resulta em temas que funcionam como um todo coerente. É impossível não detectar referências sonoras a bandas como Death e Cynic, esta última evidente por causa da voz processada que Steffen Kumerer usa ocasionalmente, em adição a registos vocais mais standard do death e do black metal. Outro nome incontornável é Necrophagist, não só pelo estilo tecnicista análogo (embora os Obscura sejam mais melódicos e prescindam da componente grind destes) mas também pelo facto da formação alemã incluir dois membros - autênticos prodígios nos respectivos instrumentos - do colectivo que gravou «Epitaph». E como se tanto talento não bastasse a banda conta ainda com Jeroen Thesseling, o baixista que integrou os Pestilence da fase «Spheres», cujo fretless realça pinceladas de jazz de fusão, sendo um elemento fundamental na malha sonora registada no disco. Sem dúvida, um grande trabalho a assinalar em 2009.

in CLIP (Diário de Aveiro), 25 Junho 2009

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Edição de Junho 16, 2009

Na 2ª Hora

Entrevista com Steve Flynn, baterista dos norte-americanos GNOSTIC (e Atheist) a propósito do álbum «Engineering the Rule».

- "De facto os Gnostic estão, musicalmente, próximos dos Atheist e isso deve-se, em parte, ao meu contributo pessoal nas duas bandas como executante e como arranjador";
- "Queria que as pessoas avaliassem a nossa música pelo mérito que ela tem, mas reconheço que isso vai ser difícil, particularmente para os fãs de Atheist";
- "Tocar este tipo de música é sempre um desafio; é tão excitante como resolver um puzzle complexo. Nunca é aborrecido. Uma banda envolve sempre coisas chatas e algumas frustrações, portanto é bom que haja algo que se faça com prazer e de forma apaixonada!";
- "Comecei a tocar bateria por causa dos Rush. Fiquei fascinado com o Neil Peart e sempre quis recriar a sua forma de tocar".
(Steve Flynn)
>>> Click on the picture to download the full interview

sexta-feira, 5 de junho de 2009

BILOCATE

«Sudden Death Syndrome»
(Daxar Music, 2008) [8/10]

São um dos mais recentes fenómenos a emergir do Médio Oriente, mais concretamente da Jordânia, onde a música extrema ainda é vista como uma séria ameaça para os ideais religiosos. O trabalho do colectivo chega até nós através deste brilhante registo que combina doom e death metal de uma maneira que, por vezes, sugere Orphaned Land e Novembers Doom. Nas passagens mais calmas é também reminiscente da marca progressiva dos Opeth, aspecto que surge reforçado inevitavelmente pela co-produção e mistura de Jens Bogren. Os instrumentos tradicionais (e.g. oud e tabla) e os padrões rítmicos típicos das arábias, abraçados por tantas bandas provenientes desta região do globo, são aqui um elemento algo secundário, pelo que a música soa quase sempre muito ocidental. O ambicioso “Blooded forest” destaca-se como o tema mais representativo de todo o álbum. Com riffs excelentes a meio-tempo, segmentos atmosféricos, ora dramáticos ora grandiosos, belos excertos em piano e toda uma série de detalhes atractivos de composição, resultam num épico que consegue a proeza de prender a atenção durante todos os dezassete minutos da sua duração. Fartos das proibições impostas pelo regime teocrata do seu país de origem, as quais não permitiram mais do que uns míseros quatro concertos num espaço de seis anos, os Bilocate mudaram-se recentemente para o emirado do Dubai estando agora mais livres para, finalmente, dar largas a esta forma de expressão que não conhece fronteiras geográficas, culturais ou religiosas.

in CLIP (Diário de Aveiro), 11 Junho 2009