domingo, 21 de agosto de 2011

Calvão em chamas!

VAGOS OPEN AIR 2011
Lagoa de Calvão, 5 e 6 de Agosto

O primeiro fim-de-semana de Agosto viu mais uma vez as atenções da comunidade metaleira nacional totalmente concentradas na pequena localidade de Vagos, onde decorreu a 3ª edição do festival que já muitos referem carinhosamente como o Wacken português. O cartaz prometia e, definitivamente, não defraudou as muitas centenas que, durante dois dias, acorreram ao campo de futebol do G. D. de Calvão para ver e ouvir alguns dos nomes mais sonantes da música extrema actual.
Quem começou por dar nas vistas não foram, no entanto, os famosos, mas sim um colectivo desconhecido de todos – os Essence. Sucedendo-se às actuações dos nacionais Revolution Within e dos Crushing Sun, este grupo de jovens dinamarqueses fez abanar muitas cabeleiras por entre as hostes do VOA com o seu thrash fresco, embora revivalista, numa actuação que fez sobressair um baixista virtuoso e que terminou da melhor maneira possível com uma muito bem recebida cover do intemporal “Raining Blood” dos Slayer.
Os Anathema protagonizaram um dos melhores concertos deste primeiro dia. Com Daniel Cardoso nas teclas, a banda de Liverpool tomou conta da multidão com o seu rock atmosférico carregado de emoção, desfiando um reportório baseado inicialmente em «We're Here Because We're Here» e encerrando com o fabuloso “Fragile dreams” do álbum «Alternative 4». Apesar das lamentáveis três ou quatro vezes em que foram interrompidos por corte de energia, o que ficou nos presentes foi a impressão de uma prestação verdadeiramente memorável.
Já dos Tiamat não se pode dizer o mesmo. Depois de uma entrada em palco que atrasou mais de meia hora, Johan Edlund e companhia deram inicio a uma actuação monótona e sem brilho que só viria a arrancar a audiência da letargia quando passou por clássicos como “Whatever that hurts” (de «Wildhoney») ou “The sleeping beauty” (de «Clouds»).
Mas essa noite de sexta-feira estava destinada a terminar em apoteose, ou não fossem os Opeth a última banda do alinhamento. E assim foi: ao som de “Grand conjuration” a formação sueca arrancou um set brilhante que revisitou álbuns como «Still life», «Deliverance», «Damnation» e «Watershed», colocando em evidência toda a dinâmica, variedade e riqueza artística que caracteriza a música do grupo, enquanto o líder e front-man Mikael Akerfeldt encantou com o habitual à vontade e boa disposição com que contacta a audiência.
As hostilidades do segundo dia iniciaram-se com os portugueses We are the Damned e os Malevolence, e prosseguiram ainda ao ritmo do death metal melódico com os finlandeses Kalmah.
O projecto a solo do ex-Emperor Ihsahn era um dos focos de maior expectativa deste dia, e o multi-instrumentista norueguês não desapontou. Apresentando-se em palco com os músicos dos compatriotas Leprous, Ihsahn presenteou o público com uma selecção de temas dos seus três registos a solo, incidindo especialmente no último, «After». Para gáudio da audiência tocou ainda dois temas dos Emperor: “Tongue of fire” e o incontornável “Thus spake the nightspirit”.
Os preliminares sonoros e visuais durante o soundcheck que se sucedeu, fizeram logo suspeitar que o que viria a seguir não era mais um simples concerto de metal. E não foi. Na verdade tratou-se da actuação mais marcante de todo o VOA2011: a dos Devin Townsend Project.
Abrindo com “Addicted!”, o hiper-activo Devin Townsend e os seus comparsas brindaram os presentes com autênticos espasmos musicais de génio, fazendo-se acompanhar por animações sincronizadas centradas na personagem cómica do extraterrestre Ziltoid, que passavam nos dois ecrãs gigantes. A actuação percorreu temas dos DTP e dos álbuns de Devin em nome próprio, tendo contado com a participação de Ihsahn, que a dada altura subiu ao palco para cantar em “Juular”, conforme a versão de estúdio. Extremamente expressivo e engraçado, o front-man canadiano conquistou facilmente o recinto com a sua personalidade e com o espectáculo verdadeiramente assombroso que proporcionou.
A derradeira actuação do VOA estava reservada para os veteranos Morbid Angel, baluartes do death metal norte-americano e por isso um dos nomes mais aguardados do cartaz.
Encabeçados novamente pelo lendário David Vincent que estava muito falador, embora pouco inspirado, a banda da Florida esmagou sonicamente a Lagoa de Calvão, primeiro com “Immortal rites”(do primeiro álbum) e depois com clássicos como “Sworn to the black” e “God of emptiness”. Do surpreendente e obscuro «Illud Divinum Insanus» cuspiram ferozmente “Nevermore”, “I am morbid” e “Existo vulgoré” com uma performance de primeiríssima categoria que arrasou de vez com o auditório, comprovando uma vez mais porque são ainda uma das potencias mais relevantes da música extrema actual. Com os últimos ecos de “World of shit (The promised land)” no ar, os Morbid Angel deram por encerrada mais uma excelente edição do Vagos Open Air.

in Clip (Diário de Aveiro), 18 Agosto 2011



2 comentários:

Anónimo disse...

Foi a minha primeira experiencia em eventos do género. Gostei bastante de toda a envolvência do festival! Fiquei a conhecer bandas que desconhecia, e fiquei fã de algumas, tais como: Anathema, Devin Townsend Project, e Opeth!
Isabel Lopes.

csa disse...

Bela reportagem :)
Bom destaque para os Essence, que se destacaram, apesar de não serem ocnhecidos. Talvez os venhamos a encontrar novamente :)