sexta-feira, 5 de setembro de 2008

OPETH

«Watershed»
(Roadrunner Records, 2008) [10/10]

O aspecto principal que faz dos Opeth uma banda sem paralelo é a forma singular como sempre aliaram universos musicais contrastantes e, até há bem pouco tempo, disjuntos, sendo o recente «Watershed» o disco que melhor ilustra essa faculdade ímpar da banda de Mikael Akerfeldt. Neste que é já o nono álbum da formação sueca, a fusão referida resulta ainda mais equilibrada e coerente devido a um maior enfoque em passagens acústicas interpretadas em voz limpa - aspecto que o vocalista e mentor da banda tem vindo a melhorar sobremaneira - em detrimento duma redução nos extremismos do death metal. A composição é a mais fluente e inspirada de sempre, fazendo mais do que nunca justiça à classificação de progressiva, com momentos de pura magia criados pelo condão das guitarras da dupla Akerfeldt/Akesson e pelos teclados de Per Wiberg, este a remeter amiúde para atmosferas evocativas das velhas lendas do rock sinfónico, e ocasionalmente com a aparição de instrumentos clássicos. No geral a música retém aquele espírito que oscila entre o profundamente emotivo e até dramático que sempre caracterizou o colectivo, e um lado mais animado e positivo. Depois do lançamento, em 2005, de um disco aparentemente insuperável como «Ghost Reveries» e da perda subsequente de dois membros de longa data, é provável que poucos esperassem dos Opeth um novo álbum deste calibre. Contudo, a verdade é que a banda regressou com um dos trabalhos mais orgânicos e consistentes de sempre, que é, segundo palavras do próprio Akerfeldt, “de alguma maneira, um álbum de transição”. Para onde essa transição levará futuramente o som opethiano, é algo que fica em aberto para especulação até ao próximo registo.

in CLIP (Diário de Aveiro), 4 Setembro 2008

2 comentários:

RJ disse...

Há muito anormal que diz que não gosta deles desde que mudaram para a roadrunner, mas eu acho que estão cada vez melhores. Apesar de estarem mais progressivos já há espaço para blast beats e solos mais "metálicos". O fredrik akesson é uma grande aquisição. O martin Axenrot é um baterista de death técnico sempre a abrir mas grande apreciador de rock, também.

Não esquecendo que o álbum foi produzido pelo Mike, o que contribuiu para que lhe desse uns toques ainda mais setentistas. Gravaram quase tudo de instrumentos sem recurso a samples ou sintetizadores. Ouvem-se os dedos a raspar nas cordas da guitarra acústica na quinta faixa. Pormenores que fazem a diferença...

CAIS DO PARAÍSO disse...

Rui, obrigado pelo comentário.
Os detractores são em geral avessos à evolução segundo uma linha menos dura. No fim a verdade é que este é provavelmente o melhor Opeth de sempre!