sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

MISANTHROPE

«IrremeDIABLE»
(Holy Records, 2008) [7/10]

Quem conhece um pouco dos Misanthrope já está por certo familiarizado com a simpatia que a banda sempre nutriu pelos grandes temas da cultura e história francesas. Desta vez o assunto é Charles Baudelaire, ícone da literatura universal do Sec. XIX a quem Philippe de L'Argilère presta homenagem de peso neste novo álbum, cuja gravação ocorreu exactamente 150 anos depois da publicação de «Le Fleurs du Mal». Musicalmente «IrremeDIABLE» não foge muito ao que a banda tem vindo a apresentar nos últimos anos, descrevendo-se como thrash/death de grande calibre técnico e composição sofisticada, com teclados subtis e algumas orquestrações pontuais. Anthony Scemama enche sempre o ouvido com um trabalho de guitarra prodigioso enquanto que a prestação vocal de de L'Argilère, toda em francês e com as suas tradicionais recitas quase choradas, continua a ser algo que exige alguma habituação. O que é mesmo diferente neste nono álbum dos Misanthrope é o baixo de Jean-Jacques Moréac que surge frequentemente em evidência em modo slap e, em geral, numa abordagem mais jazzy. É aliás à custa desta novidade e de pouco mais que a componente instrumental sobressai de vez em quando. Fora isso pode dizer-se que a música funciona essencialmente para servir a componente lírica, o que é claramente um ponto desfavorável. Neste contexto «Metal Hurlant», o álbum anterior, conteve, em média, material muito mais bem conseguido, tendo ficado pois mais ao nível do melhor que já ouvimos do colectivo francês.

in CLIP (Diário de Aveiro), 12 Fevereiro 2009

5 comentários:

Anónimo disse...

Mas que interessante!
Uma banda que dedica um álbum a Baudelaire. Sou grande fâ desse poeta francês, que conheci durante a minha licenciatura (em Ensino de Francês/Português, feita na UA).
Sei que não é nenhuma raridade.
É fácil encontrar referências à literatura negra neste género musical.
E ainda há pouco li num jornal que havia pessoas nos países de Leste que conheciam Fernando Pessoa devido ao Opium dos Moonspell.
E eu cheguei ao José Luís Peixoto pelo Antidote.
É uma boa desforra relativamente aos eruditos que pensam que esses músicos são pessoas incultas e quase analfabetas!!!

CAIS DO PARAÍSO disse...

Olá Cristina,

Só um reparo: os que acham que os músicos desta área são pessoas incultas estão longe de ser "eruditos". A maior parte das vezes são é pessoas acomodadas à música fácil. São consumistas com "short-attention span", constantemente em busca do prazer imediato.
EM

csa disse...

100% de acordo!!!
Ou então estreitaram de tal modo a "janela" que não cabe lá dentro quase nada!
Abraço.

csa disse...

Olá!
Não tinha percebido que as letras das canções eram mesmo os poemas de Baudelaire.
Desconfiei, quando vi os títulos das canções, e, agora que estou a ouvir, confirmei as minhas suspeitas.
É uma ideia interessante, esta de associar o lirismo à música extrema.
Pode ser uma maneira de divulgar a poesia junto dos jovens, ainda por cima associada a um tipo de música que muito se coaduna com ela.
Mas a minha opinião é suspeita, porque eu adoro Les fleurs du mal, que li pela primeira vez quando tinha 20 anos, no âmbito dos meus estudos de literatura e cultura francesas.

CAIS DO PARAÍSO disse...

Olá Cristina,

Será que são mesmo os poemas do Baudelaire? Pelo que li as letras resumem a biografia do poeta francês e só a letra da última música é que é de facto um poema dele, mas se calhar há mais.
abraço,
EM