terça-feira, 23 de novembro de 2010

DR SALAZAR

«Lápis Azul»
(edição de autor) [7/10]

Caso curioso no rock pesado nacional, os Dr Salazar estão prestes a completar os primeiros dez anos de uma carreira marcada tanto pela teimosia em persistir num caminho deveras singular na música de intervenção, como pelas alegadas dificuldades que a postura polémica lhes tem causado. Depois dum interregno de quatro anos, o grupo está de regresso com um álbum que remete desde logo para o universo histórico da ditadura salazarista, temática que sempre foi, por assim dizer, a raison d’etre do colectivo da Amadora, mas que já surge aqui em dose mais moderada. “Lápis Azul” conta com dez novos temas de hard rock acutilante e musculado, com alguns riffs de recorte industrial e apontamentos bem colocados de sintetizadores que conferem um leve toque sci-fi. A progressão em relação ao álbum anterior, “Antes & Depois”, acusa um vago amadurecimento que é patente quer nos temas com refrães contagiosos que incitam a acompanhar, como “Aqui d’hell rei” e a faixa-título, quer noutros, mais contidos, como é o caso de “Erupções”. Contudo, o disco também tem momentos que não parecem funcionar muito bem. Por exemplo, há segmentos em “Casos” e em “Todos querem falar”, onde o texto declamado pelo Manuel d’Albuquerque, ou é desprovido de qualquer musicalidade, ou está em completa dissonância com a restante sonoridade, surgindo forçado e anacrónico no contexto. Trata-se de um arranhar de ouvido que não é novidade nos Dr Salazar, mas que surpreende mais por se tratar do segundo álbum.

in Clip (Diário de Aveiro), 11 Novembro 2010

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