quinta-feira, 4 de novembro de 2010

LANTLÔS

«.neon»
(Prophecy Productions, 2010) [9.5/10]

Entre os grandes lançamentos a registar em 2010, «.neon» é uma daquelas raras peças de arte com o dom de nos fazer transcender o mundano; um trabalho com tanto de fascinante como de perturbador, que combina mantras post-rock de riffs lentos e introspectivos, tiradas furiosas de um black metal atmosférico carregado de emoção, e segmentos tranquilos onde o jogo de bateria e baixo (com algum piano de permeio) projecta uma atmosfera deliciosamente jazzy. O vocalista Neige (Alcest) apresenta aqui uma performance de apertar o coração, e chega até a ser arrepiante a convicção que coloca nas manifestações mais desesperadas (sintam a expressividade de «These nights were ours», onde o homem quase esganiça). O seu registo natural (aqui, pouco frequente) em «Pulse/surreal» veicula candura, e aproxima-se, curiosamente, do tom aveludado da diva da soul Sade Adu (!). Depois da estreia pouco promissora oferecida num rudimentar homónimo lançado em 2008, parece que Herbst, o multi-instrumentista germânico responsável por este projecto, acaba de reinventar os Lantlôs, sendo Neige uma das peças essenciais desse sucesso. Dessa reinvenção resultou um álbum perfeitamente equilibrado, com uma construção tão sublime que é capaz de fazer eriçar o cabelo da nuca; um disco mágico que toca no mais intimo que há em nós e em que o todo excede sempre a soma de cada uma das partes. Desliguem-se por um momento das vossas vidinhas rotineiras, baixem as luzes, e deixem-se embarcar nesta experiência quase religiosa que é «.neon».

in Clip (Diário de Aveiro), 4 Novembro 2010

1 comentário:

csa disse...

Soberbo!
É mesmo isso que se sente, quando se ouve o álbum: é uma experiência religiosa... ou, pelo menos, filosófica e de reflexão sobre a vida ou de passagem (virtual) a uma vida diferente.
Quando sairá o próximo álbum? E quando poderemos ouvir ".neon" ao vivo em Portugal?