quinta-feira, 10 de setembro de 2009

RAZOR OF OCCAM

«Homage to Martyrs»
(Metal Blade, 2009) [8/10]

Na filosofia, a navalha de Occam refere-se ao princípio que permite purgar um modelo da realidade de postulados infundados desprovidos de qualquer poder explicativo. No disco em apreço, todo ele centrado na temática do conflito entre ciência e religião, e fortemente inspirado na obra dos grandes intelectuais do chamado Novo Ateísmo: Richard Dawkins, Christopher Hitchens, Sam Harris, entre outros, o postulado a extirpar é claramente toda a noção de entidades sobrenaturais desnecessárias - deuses. Em contraste com este background lírico algo rebuscado, a música, uma mistura arrasadora de thrash old-school e black metal, é bem mais padronizada, mas soma pontos pela vitalidade que a banda lhe injecta à conta de riffs memoráveis, leads de guitarra rasgados e torrentes brutais de blast-beats debitados com uma convicção assustadora. O som dos estúdios Necromorbus deixa transparecer todos os detalhes instrumentais mas ostenta ao mesmo tempo um tipo de sujidade e aspereza que traz à memória nomes como Angel Corpse, os lendários Order from Chaos e até Absu. Embora o colectivo tenha origem na Austrália (reside actualmente no Reino Unido) e inclua dois membros dos Destroyer 666, este álbum de estreia mostra que os Razor of Occam estão empenhados numa abordagem comparativamente mais frenética e destruidora. Com um poder de impacto que não chega ao nível de um «Reign in Blood» como sugerido exageradamente pela editora, «Homage to Martyrs» constitui ainda assim a melhor meia hora de metal que ouvi nos últimos meses.

in CLIP (Diário de Aveiro), 10 Setembro 2009

1 comentário:

csa disse...

Está muito interessante este texto, por variados motivos.
Foi boa ideia referir a razão do título. Sei que William Occam é um filósofo inglês da Idade Média, mas não sabia a que correspondia este conceito de "razor of Occam". E, assim, encontro-me como M. Jourdain (o personagem de Molière): ele fazia prosa sem saber, eu usava a "navalha de Occam" sem saber, embora não forçosamente aplicada apenas a questões de índole religiosa.
Gostei muito da referência às ideias que estão na base do conceito do CD, afastando o fantasma da superficialidade associado à expressão musical moderna.
Já conheço o CD e a descrição feita das suas principais características musicais vai ao encontro do que "vi" nele.
Apreciei imenso um outro pormenor que não tem nada a ver com a crónica: a magnífica capa dp CD.